sexta-feira, março 07, 2008

O ESTADO DA NAÇÃO (2): A DESEDUCAÇÃO

Os tempos mudaram. Hoje, com a organização dominante da vida pessoal, familiar e económica, as famílias transferiram para as escolas a primazia das responsabilidades na educação dos seus filhos. Marido e mulher trabalham duro, passam horas nas filas de trânsito e nos transportes públicos e perderam disponibilidade para a educação dos filhos.

A esta mudança social, como respondeu o sistema de ensino? Respondeu com a tirania das mortíferas ideias das ciências da educação. Laxismo, facilitismo, a ideia que não há que premiar o mérito, a ideia que a diferença é um mal e que todos devem ser iguais independentemente das capacidades, da aplicação, do esforço e dos conhecimentos.

Vamos a um exemplo concreto.

PS, PSD e CDS têm passado pelo Ministério da Educação. Todos têm alimentado esta filosofia criminosa. Querem provas? Ei-las: o Despacho Normativo 1/2005, do Governo PSD-CDS, então já em gestão, prevê que no ensino básico os alunos podem passar de ano sem terem as competências essenciais, isto é, sem cumprirem as regras normais de transição de ano. Responsáveis políticos na altura? Maria do Carmo Seabra, ministra (PSD) e Diogo Feio, secretário de Estado (CDS). Chega, entretanto, o Governo PS. E altera o Despacho, mas não nas regras de passagem de ano, que manteve intactas. Responsáveis políticos? Maria de Lurdes Rodrigues e Valter Lemos.

Este é um bom exemplo de como se tem assassinado o sistema de ensino em Portugal. Desde pequeninos, os alunos aprendem que podem passar sem estudar, sem se esforçarem, sem trabalharem e, numa palavra, sem merecerem. Isto, logo no ensino básico, momento em que se aprende ou desaprende para a vida toda bons hábitos ou maus hábitos.

E por que razão isto é assim? Por várias razões.

A primeira: os Governos são obcecados com as estatísticas do sucesso e fazem normas para obterem sucesso nas estatísticas do sucesso mesmo que a realidade não seja um sucesso.

A segunda: a filosofia vigente no ministério da Educação há muitos anos e que nenhum partido tem coragem política e convicção para desmontar é a que não se pode premiar quem sabe mais e não se deve reprovar quem não sabe o suficiente.

É este o estado da Nação na Educação.

Ninguém quer ser avaliado. Há sempre uma razão para justificar a continuação da impunidade educativa em que o país vive. Cada sector da educação limita-se a defender o seu interesse corporativo. Quem paga? Os alunos que não são convenientemente preparados para a vida futura e o país, que se vai tornando cada vez menos competitivo em termos de recursos humanos.

Mas isso é, certamente, o que menos interessa…
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

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