sexta-feira, fevereiro 23, 2007

A CONDENAÇÃO AO PARQUÍMETRO

A Camara de Aveiro inscreveu uma nova pena no Código Penal da cidadania: a condenação ao parquímetro. O novo regulamento que estabelece as normas do estacionamento no centro da cidade foi aprovado esta semana pela Camara de Aveiro. O documento precisa ainda da aprovação da Assembleia Municipal, onde o debate se centra no problema da eventual privatização da MoveAveiro e na defesa por parte da Câmara daquilo que diz ser um benefício para as condições do estacionamento no centro da cidade.
O PS de Aveiro, ao que parece subitamente regressado aos tempos dos Governos de Vasco Gonçalves que promoveram as nacionalizações, desconfia que o Regulamento Municipal das Zonas de Estacionamento de Duração Limitada em Aveiro, aprovado pelo Executivo municipal, com os votos da maioria PSD/CDS-PP/PEM, foi feito de encomenda para a privatização da MoveAveiro, conseguindo criar mais fontes de receita para «tornar a empresa mais apetecível no mercado». Por isso, note-se, por isso, o PS votou contra o regulamento.
Já a Câmara de Aveiro parece que deseja a privatização, mas tem medo, muito medo de o assumir. Como se fosse um pecado desejar uma privatização. Como se fosse um erro. Como se fosse um bruxedo fantasmagórico.O escândalo do novo Regulamento consiste em obrigar os residentes a pagar o estacionamento. Os cartões de residente deixarão de permitir estacionar sem quaisquer custos, uma vez que, segundo o documento, será pago entre as 10 e as 13 horas e entre as 15 e as 17 horas. Por isso, a oposição diz que a Câmara «vai ao bolso dos munícipes de uma forma que não é justa porque a realidade de Aveiro não precisava que isto acontecesse e não tem carga de tráfego que justifique». No caso dos cerca de mil lugares de estacionamento, 400 podem ser ocupados por portadores de cartões.
A Câmara justifica a medida com o objectivo de permitir uma «maior rotatividade de estacionamento na zona central, económica e de serviços». Cobrar o estacionamento também aos residentes justifica-se por ser uma «zona de maior procura, no período crítico, de utilização comercial». De resto, segundo a Câmara, o regulamento, criado em 1992, «necessitava urgentemente de uma adaptação à realidade existente na cidade, tendo em conta a criação da empresa municipal MoveAveiro e as mudanças no Código da Estrada», a «expansão do sistema dos parcómetros» e a criação de «soluções de estacionamento em zonas periféricas da cidade, dotadas de um número significativo de transportes públicos».
O que é mais escandaloso é que nem todos os residentes são atacados de parquimetria. Os motociclos, ciclomotores e velocípedes, as viaturas do Estado e entidades públicas ou particulares que prossigam fins de utilidade pública estão isentos do pagamento. O preço do espaço para os residentes deve ser mais caro que o preço do espaço para o Estado e demais entidades públicas. Residir no centro é, para a Câmara de Aveiro, uma coisa a evitar, para permitir que haja estacionamento ou para garantir receitas para as depauperadas finanças municipais.Está estudado e praticado: é mais eficaz e mais rentável privatizar a fiscalização do estacionamento. Devia por isso ser extinta a MoveAveiro (ai que lá se iam os tachos…), e contratado o serviço a uma empresa privada. Seria melhor para todos.Já quanto aos residentes a solução é só uma: isenção de pagamento. Não faz sentido querer dar vida própria aos centros das cidades e depois taxar a vida no centro da cidades. É o cúmulo da hipocrisia.

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

O REFERENDO DO DIA SEGUINTE

O sim ganhou o referendo do aborto. A partir de agora e apesar da Assembleia da República não estar obrigada a legislar nesse sentido porque não votou a maioria dos eleitores recenseados, as esquerdas têm legitimidade política para fazer uma lei com uma norma a dizer que o aborto praticado até às dez semanas por opção da mulher em estabelecimento de saúde autorizado não é crime.Parece simples não é caro leitor? Pois não é.Logo nos dias seguintes ao referendo ficou claro que o PS não sabe o que fazer com a vitória que inegavelmente alcançou. Na segunda-feira veio Alberto Martins, líder parlamentar do PS, dar a entender que não haveria qualquer aconselhamento obrigatório para as grávidas que quisessem abortar. Na terça-feira, nas jornadas parlamentares do PS, essa ideia ficou ainda mais vincada em declarações de diversos deputados e do próprio Primeiro-Ministro.
Para quem acompanhou a campanha de perto, é fácil constatar que alguns defensores do Sim mentiram com quantos dentes tinham na boca quando afirmaram que a resposta Sim à pergunta do referendo não implicaria o Sim ao aborto livre. Chamaram mentirosos a quem afirmava o contrário. Alguns, como Vital Moreira ou Maria de Belém Roseira, deram a entender que o aconselhamento seria contemplado na regulamentação da lei.Constata-se agora que tudo não passou de uma mentira. Quem, de boa fé, respondeu Sim, na expectativa de que aí viria uma lei moderada, desengane-se, pois o que a maioria aprovou foi efectivamente o "direito ao aborto". Depois veio outra vez Alberto Martins dizer que ninguém fazia a Lei, só o PS. O PS parece uma criança a quem deram um brinquedo novo. O problema é que não sabe como pôr o brinquedo a funcionar.
A verdade é que existem várias questões em aberto por resolver. Vai-se despenalizar ou descriminalizar o aborto, mantendo a sua ilicitude? Vai-se dar a exclusiva opção de abortar à mãe ou vai permitir-se que o pai tenha opinião? Vai-se construir um tipo de crime novo punindo o acto conforme o lugar onde ele é praticado, sem consideração pelos “direitos” da mãe, mantendo-se teimosamente a ideia de que só não há crime nos “estabelecimentos de saúde legalmente autorizados”? Vai-se exigir uma qualquer motivação da mãe - “angústia”, “sofrimento psicológico” ou outra equivalente - ou não se exigirá qualquer razão, por frágil que seja?Vai-se exigir um período de aconselhamento e reflexão prévios - e vai-se fazer desse momento um espaço informativo meramente técnico, ou, pelo contrário, vai transformar-se esse momento numa ocasião de defesa da vida? Vai estabelecer-se algum equilíbrio entre as mães que abortam e as que querem ter os seus filhos, em termos de acesso a prestações sociais? O que vai o Estado fazer aos casais que querem ter filhos e não podem? Vai tratá-los como doentes e apoiá-los no Serviço Nacional de Saúde como irá passar a fazer com as grávidas?
A esclarecer tudo isto fugiram Sócrates, Correia de Campos, o PS e restantes esquerdas durante o debate de campanha. Não convinha. Agora está instalada a confusão.
Para agravar tudo isto, vem agora, agora, só agora, Cavaco Silva puxar dos galões presidenciais e exigir prudência e equilíbrio na Lei. O mesmo Presidente que nem uma intervenção pública se dignou fazer sobre o tema quando era o tempo de esclarecer e decidir, que nem uma mensagem prévia de apelo ao voto no referendo arriscou fazer. Tarde de mais para tanta preocupação, parece-me. É que o Presidente tem, dizem os sábios constitucionais, o enormíssimo poder da palavra. Com o seu silêncio no momento em que devia ter falado, Cavaco Silva não perdeu certamente o poder formal do veto, mas perdeu seguramente autoridade política e margem de manobra para fazer o que quer que seja.

(publicado na edição d ehoje do Diário de Aveiro)

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

NÃO

«Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado? Porquê?»

OBVIAMENTE NÃO!

Em primeiro lugar, porque a partir da concepção existe vida humana (se não é vida humana será o quê? Uma “coisa” como lhe chamou Lídia Jorge no Prós & Contras?), embora não haja ainda pessoa jurídica. Em segundo lugar, porque a vida humana deve ser respeitada por todos os humanos. Em terceiro lugar, porque não se pode atribuir a ninguém o livre arbítrio de decidir quem nasce e quem não nasce. Em quarto lugar, porque é repugnante consagrar um direito ao aborto, como sucederá se o Sim ganhar. Em quinto lugar, porque ninguém explicou ainda qual é a diferença que justifica o limite das dez semanas e não das nove, das oito, das onze ou das doze, o que revela um puro jogo de sorte ou azar, do tipo “Casino da Gravidez”, numa matéria de civilização. Em sexto lugar, porque apesar disto tudo, nem a vantagem de eliminar o aborto clandestino a resposta Sim garante, visto que ele continuou a existir em todos os países que liberalizaram o aborto. Em sétimo lugar, porque seria aberrante tratar uma grávida como se fosse um doente e passá-la à frente de pessoas que têm doenças graves para as quais não contribuíram para serem atendidas no Serviço Nacional de Saúde. Em oitavo lugar, porque hoje só engravida quem quer, dada a generalização do acesso aos meios contraceptivos, o que torna a gravidez não desejada possível de evitar por qualquer pessoa. Em nono lugar, porque já hoje a lei penal consagra a possibilidade de em certas circunstâncias de exclusão da ilicitude, não haver aplicação de pena por prática de aborto. E, em décimo lugar, porque esta é uma pergunta batoteira: uma gravidez não se interrompe, destrói-se. E destruir vida humana à mercê de um capricho de ocasião, isto é, “por opção da mulher”, livremente, é um retrocesso civilizacional.
(publicado no Diário de Aveiro)

TEATRO DO VERDADEIRO


(Teatro Aveirense)

Não, não é teatro puro a peça que está em cena na Câmara Municipal de Aveiro acerca do destino a dar ao Teatro Aveirense. O teatro puro é uma encenação, requer actores que representam papéis que não têm nada a ver com o que os actores são na vida real. Este não é o caso.

A solução política que gere o executivo municipal é um arranjo partidário, não uma coligação. Quando o CDS, o PSD e o PEM se juntaram para concorrer às últimas eleições autárquicas fizeram um grupo apenas para limitar os danos da derrota eleitoral que davam por garantida. Assim, ninguém poderia culpar o outro pela derrota. Todos tinham feito a mesma viagem, no mesmo barco, ao mesmo tempo. Não construíram uma alternativa para governar Aveiro com sentido, com rumo, com objectivos, com um projecto. Deixaram-se andar à espera que as eleições passassem e arrumassem uns quantos candidatos na Vereação e na Assembleia Municipal.

Para sua surpresa, quiçá para seu desespero, ganharam e agora a verdade vem ao de cima: isto é, não se entendem. Não se entendem sobre a herança que receberam e não puderam repudiar, visto que ano e meio depois nem sequer o valor da dívida municipal conseguiram apurar, numa manifestação de incompetência inadmissível no século XXI, a era das tecnologias de informação. Mas, mais grave, não se entendem sobre o que fazer para o futuro. Nem nas grandes, nem nas pequenas coisas.

O conflito que existe no Executivo municipal acerca do destino a dar ao Teatro Aveirense é apenas mais um triste episódio do Teatro verdadeiro que está em exibição em Aveiro desde as últimas eleições autárquicas. Dá a a ideia que os partidos que ganharam as eleições nem tempo tiveram para se encontrar, num café que fosse, para trocar umas ideias sobre o futuro.

Resultado: Vereador sim, Vereador não, sai uma solução nova para o mesmo problema. Por cima disto está o distante, silencioso e apático Élio Maia, incapaz de pôr ordem numa casa que nunca imaginou ter de arrumar. E ao lado disto, está a Directora do Teatro, qual ex libris do Bloco de Esquerda a lutar contra o Diabo dos “privados” e cujo lugar estaria em questão com uma eventual concessão, a ameaçar com um movimento cívico contra um Rui Rio fantasmagórico que, manifestamente não é de Aveiro…

Teatro do verdadeiro em Aveiro? Sim. Mas do mau.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)


quinta-feira, fevereiro 08, 2007

NA BANCADA

Agradeço ao Nuno Q. Martins a citação que fez no seu Bancada do Norte do meu texto sobre o futebol. E não ligue aos comentários, que vozes de burros não chegam aos céus. Devem ser algumas pessoas incomodadas e receosas que se saibam histórias proibidas do futebol, que Aveiro também as tem.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

NOVA DEMOCRACIA EM AVEIRO

Amanhã sábado, Manuel Monteiro estará na cidade de Aveiro para uma accção de recolha de assinaturas para a petição a dirigir ao Parlamento sobre o trabalho cívico a prestar como contrapartida da atribuição do rendimento social de inserção e distribuição de panfletos sobre a Europa e da ligação da Nova Democracia à EUD - EUDemocrats. O ponto de encontro será em frente ao novo Mercado Municipal de Aveiro, pelas 10h00. De seguida a comitiva dirigir-se-á para o centro da cidade e aproveitará para dar a conhecer o local das futuras instalações da sede da Nova Democracia na cidade de Aveiro.

O FUTEBOL E O PAÍS



Terminou mais uma época de transferências de jogadores de futebol de acordo com as regras estabelecidas para o funcionamento do respectivo mercado. Ao contrário do que é costume, os principais clubes de futebol do país compraram pouco, como o F. C. Porto e o Benfica (neste caso com encaixe prévio de uma transferência de um jogador para Inglaterra), ou nada, como o Sporting. O Beira-Mar, que ocupa o último lugar da classificação da Superliga e desatou a trocar jogadores como se a época desportiva fosse começar agora.Esta situação demonstra uma coisa óbvia: o futebol português parece ter percebido que não se pode viver indefinidamente à custa do futuro e do incerto. E que, sobretudo, não se pode viver indefinidamente com o dinheiro que não se tem.
A situação financeira dos principais clubes de futebol não é diferente da situação do país. E, como fez o próprio país, andou anos demais a assobiar para o lado, a viver do que tinha e do que não tinha. Parece que a hora da verdade chegou. Há estádios para pagar, receitas recebidas antecipadamente que já não virão, e tudo isto sem ter durante anos a fio desenvolvido o grande factor diferenciador do futebol português que é a formação de jogadores.A gestão desportiva dos clubes tem sido escrava da ansiedade dos cada vez menos adeptos que se mobilizam à porta dos treinos, que assobiam ou aplaudem jogadores e que estão sempre prontos para exigir o céu e a terra aos dirigentes, aos treinadores e às equipas. É uma péssima gestão desportiva. Trocam-se jogadores por trocar, sem ganhos visíveis e apenas para desenvolver o mercado dos empresários. Trocam-se treinadores porque uma bola não entra. Não se desenvolvem projectos desportivos sustentados, para atingir objectivos a médio prazo.
Que melhor retrato do país podemos ter?
Acresce que, entretanto o futebol transformou-se numa indústria. Com sociedades comerciais, com cotação dessas sociedades em bolsa, nalguns casos, com activos e passivos e exigências legais a condizer com as de qualquer sociedade comercial. O problema é que, ao contrário do que acontece com as outras sociedades comercias, nas sociedades anónimas desportivas há um clube com associados por trás. O clube é uma instância legitimadora ou deslegitimadora das sociedades anónimas desportivas. E esta é que é uma realidade específica que nas outras indústrias não existe. Não é por acaso que os clubes têm adeptos e as outras marcas apenas têm consumidores.Vêm estas reflexões a propósito do momento difícil que se vive no Beira-Mar, apenas meses depois da euforia da subida de divisão. E também da contestação que um projecto empresarial pouco explicado e perceptível pelos adeptos está a gerar. Nada disto é bom pronúncio para o futuro.
A cidade de Aveiro tem história, tradição, economia e potencialidades para ter no futebol uma das suas marcas de afirmação. Seria lamentável que, por repetir os erros que já custaram caríssimo a outros clubes também cheios de tradição e potencialidade, Aveiro viesse, também no futebol, a descer de divisão.

(publicado na edição de hoje do Diáriode Aveiro)