sexta-feira, outubro 13, 2006

Um Ano Triste


No dia 08 de Outubro de 2005 Élio Maia adormeceu com uma certeza: no dia seguinte à mesma hora seria vereador da Câmara Municipal de Aveiro. A urna pregou-lhe uma partida. Fez dele Presidente da Câmara. E deixou-o surpreendido com uma criança nos braços, para a qual não criou músculo nem tinha alimento. Isto é, para a qual não tinha projecto nem equipa. A ideia era que o PS renovaria o mandato na Câmara e a lista da coligação foi feita para se opor nessa eventualidade e não para governar. E, como tal, também não era necessário programa, apenas imaginação para criticar Alberto Souto, o que como se sabe, dado o desvario financeiro, não seria tarefa difícil.

Mas a democracia prega partidas de vez em quando. Este devia ter sido o ano do estado de graça. Mas foi apenas o ano da dança do milhão. A política municipal tem-se resumido a mais milhão menos milhão, como se essa precisão fizesse alguma diferença. A dívida e o passivo municipais são asfixiantes e um ano depois das eleições ainda ninguém sabe quanto é ao certo. Qualquer dia será necessário fazer um pacto de regime municipal para se assentar no valor exacto dessa dívida e desse passivo, para então começar a governar.

Politicamente falando, falta em Aveiro um discurso do estado do município em que o líder do município apresente o seu projecto para o futuro. Porque a verdade é que se a situação era negra à partida, hoje ainda o é mais. Não se vê horizonte, só dívidas. Não se percebe uma estratégia, apenas o imobilismo de quem não estando à espera de ter de governar se tem revelado incapaz de reagir à situação e dar a volta por cima.

A coligação anda às turras, no meio de episódios dignos de filme de série C, e já soma emails clandestinos, demissões, críticas e desavenças intestinas, que mostram bem a natureza política do arranjo que foi feito para fazer a vida negra ao PS, caso este, como todos esperavam, ganhasse as eleições. Com um factor de complicação adicional: a coligação inicial adquiriu um terceiro partido que não estava previsto: o PEM. Não é segredo para ninguém que Élio Maia tem sofrido um bom pedaço com os jogos dos partidos da coligação e que já está pelos cabelos, como se diz em português vernáculo, com alguns dos seus representantes no executivo municipal.
Mais grave: parece que a dívida e o passivo actuais já foram substancialmente acrescentados este ano por despesa clientelar da responsabilidade da coligação.

A tendência dos últimos anos não foi invertida. Aveiro não está na estratégia nacional do turismo, a Ria de Aveiro tem jornadas mas não tem gestão, o concelho está descuidado, e nada, mas mesmo nada é feito, para que no futuro não se volte a passar pelos problemas do presente. Aveiro, concelho do litoral, ameaça tornar-se uma espécie de interior, sem peso económico, cultural e político. Até a Polícia Judiciária, que curiosamente é actualmente dirigida por um aveirense, parece estar de partida.

Aveiro é hoje uma cidade triste. Apesar de ter das melhores Universidades europeias, não tem sabido apanhar o comboio do desenvolvimento. É preciso mudar este estado de coisas. Mas para isso é preciso liderança e programa. Exactamente aquilo que hoje não existe. Este primeiro ano de coligação PSD/CDS/PEM foi um ano triste.

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

1 comentário:

José Manuel Dias disse...

Clap..clap...clap