A comunidade piscatória de Espinho tem cada vez menos pescadores porque os que vão para o mar têm salários baixos. Apesar de ser verdade, Manuel Monteiro acredita que é possível tirar lucro deste sector e justifica que se os espanhóis conseguem, os portugueses também.
O líder do Partido da Nova Democracia (PND) visitou ontem a comunidade piscatória de Espinho para demonstrar que o país tem vantagens competitivas no sector da pesca que não está a aproveitar. Sem assumir uma postura de pré-campanha eleitoral, mas cumprimentando pescadores, peixeiras e a restante população local como se as eleições fossem dentro de meses, Manuel Monteiro diz que ouviu as mesmas queixas relatadas há oito anos.
Os pescadores justificam que não compensa ir ao mar porque a rentabilidade do negócio para eles é pouca e lamentam estar limitados a pescar sardinha pequena quando pescadores espanhóis a pescam ao largo de Espinho para vender do outro lado da fronteira.“Se eu lhe disser que desde Janeiro até agora lucrei mil euros com a pesca não deve acreditar”, atirou no meio de uma conversa de café o pescador Fernando Pinto da Costa, com 56 anos e décadas de experiência no mar.
As contas feitas por este espinhense não são difíceis de fazer e acrescenta que ontem de manhã, na última ida ao mar, o barco em que seguia fez 420 euros. “Isto a dividir por 33 pessoas... Diga lá quanto nos fica”, insistiu, pormenorizando que o montante é dividido consoante a graduação de cada trabalhador. O pescador acrescenta ainda que nem sempre é fácil vender o peixe e o principal perigo é a especulação. Às 6h30 vendeu 20 quilos de carapau a 30 euros e ao meio-dia esse mesmo peso foi vendido por 10 euros para se livrarem do peixe.
Dos pescadores ouvidos por Manuel Monteiro, António Maganinho é dos que confia que, a continuar assim, não faltará muitos anos para deixar de haver trabalhadores ligados à pesca no Bairro Piscatório da Marinha, restando apenas o nome. “Há 15 anos moravam cá 192 pescadores que trabalhavam em Matosinhos e 85 ao largo de Espinho. Agora vão seis para Espinho e aqui restam entre 60 a 70”, contou. A alternativa que os mais jovens encontraram parece ser fácil e mais lucrativa do que viver da pesca. Em vez da incerteza das vendas de cada dia, este pescador diz que ficam em casa porque sabem que ao fim do mês o rendimento mínimo é certo.
Outra das opções é frequentar cursos com subsídios para depois regressar a casa.Insatisfeito com o que ouviu, Manuel Monteiro defendeu que os políticos deviam ter coragem de exigir que em troca do rendimento mínimo os portugueses prestassem serviço à comunidade. Em todo o caso, diz que não é a solução para revitalizar esta e outras comunidades piscatórias não passa pela entrega de subsídios mas por um olhar atento à rentabilidade que os espanhóis conseguem tirar do mar português. “Se é rentável para os de fora, para os nossos pescadores também tem de ser”, repetiu.
Referiu-se ainda à capacidade deste sector gerar empregos indirectos em áreas como a indústria das conservas, os estaleiros navais e a criação de redes de pesca. “Temos andado a vender o país ao estrangeiro”, ironizou.Associado ainda por alguns ao CDS/PP, Manuel Monteiro passeou-se no que diz ser “o Espinho de segunda” e mostrou-se preocupado com as condições em que vivem algumas famílias na Marinha. De barracas passaram para contentores próprios de estaleiros e mantiveram a vista para a praia.
Texto de Ana Magalhães, no Primeiro de Janeiro
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