sexta-feira, abril 10, 2009

O CONTRATEMPO EUROPEU

As próximas eleições europeias, as primeiras do ciclo de três que teremos este ano, são um contratempo para os partidos da alegada direita. CDS e PSD têm revelado enorme dificuldade em encontrar quem os represente e têm um discurso nulo sobre o que está em causa nas eleições. Esta realidade demonstra que a oposição está sem capacidade de decisão e de atracção política. O que é deveras surpreendente, dada a crise que atravessamos, o desencanto com o Governo do PS e a falta de credibilidade que José Sócrates exibe.

O CDS decidiu-se, enfim, esta semana e não teve alternativa se não recrutar no refugo interno um personagem que não aquece nem arrefece. A lista europeia dos neo-federalistas do CDS é uma lista de obediências internas, não de convicções políticas. Já se percebeu que Portas já não encanta ninguém que não tenha a obrigação de se deixar encantar.

Diz-se, por outro lado, que vai pedir a adesão formal ao partido federalista chamado Partido Popular Europeu, o que será, a confirmar-se, o selo de garantia da inutilidade europeia superveniente deste partido. O PSD, até à hora em que escrevo, nem refugo nem não refugo. Está sem candidato, sem programa e sem discurso, embora não se espere nenhuma novidade de um partido que pertence ao decadente projecto europeu vigente na União Europeia. Tem um cartaz de Manuela Ferreira Leite espalhado pelo país, um cartaz necessário para a líder do PSD, mas bastante desfasado da agenda política, a não ser que seja ela própria a candidata do PSD ao Parlamento Europeu…

Para quem acredita numa Europa de Estados soberanos, as eleições para o Parlamento Europeu são relativamente desinteressantes. Para os cidadãos dos países em que o voto não é obrigatório também, visto que os mesmos cidadãos dispensam a essas eleições um altivo desinteresse, optando por taxas de abstenção maciça, por muito que alguns pedagogos se esforcem por nos demonstrar a importância das decisões que o órgão toma durante os cinco anos de cada mandato, de acordo com os esotéricos Tratados europeus.

O Parlamento Europeu surge aos olhos dos cidadãos como uma prateleira política dourada, para onde são recambiados políticos em fim de carreira ou sem ocupação, regiamente pagos, que dão uma despesona à União, o mesmo é dizer, aos orçamentos dos Estados da União, o mesmo é dizer e sempre, ao nosso bolso. As grandes decisões da União, todos o sabem, não são tomadas ali.

Melhor seria, para poupar sucessivos vexames democráticos à União, que se regressasse à eleição indirecta dos deputados do Parlamento Europeu, como se fazia, aliás, no tempo em que a Europa era uma Europa de soberanias e não de federalismos.

Mas as eleições vão mesmo acontecer. O interesse que resta, que é o interesse das consequências internas dos resultados eleitorais, tal e qual ocorreu nas últimas eleições homólogas com uma estrondosa e histórica derrota do CDS e do PSD, vale de pouco para a mudança política de que o país precisa.

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

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