sexta-feira, dezembro 12, 2008

RARIDADES

O Distrito de Aveiro possui moinhos de todo o tipo e mesmo alguns que são verdadeiras raridades tecnológicas, que estavam por registar e documentar, disse o historiador Armando Carvalho Ferreira. Autor do livro Moinhos do Distrito de Aveiro, que vai ser lançado sábado na Universidade de Aveiro, Carvalho Ferreira percorreu durante dois anos todos os concelhos do Distrito, do litoral ao interior, «descobrindo» raridades mundiais como atafonas e peças únicas de concepção local.Segundo o historiador, ao contrário de outras zonas do país que se caracterizam por um determinado tipo de moinho, como a zona Oeste com os moinhos de vento, o distrito de Aveiro reúne moinhos das várias tipologias.«Há registos da utilização dos moinhos de água e de vento, pelo menos desde o séc. XII» refere o historiador, que destaca entre o património molinológico de Aveiro as atafonas, (moinhos de tracção animal), um sistema de moagem raro, mesmo a nível mundial.«No que respeita às mós manuais foi possível encontrar peças únicas, que não estavam documentadas em nenhuma bibliografia, que são de concepção local», salienta Carvalho Ferreira, que agora as vais documentar em livro.Outra tipologia que descreve no seu trabalho refere-se aos moinhos de armação, que são moinhos de vento com velas metálicas, semelhantes aos de bombear água, um dos quais se encontra ainda a funcionar, e que foram construídos para todo o país e para o estrangeiro por duas famílias de «fabricantes» da região: Bolais Mónica, da Gafanha da Nazaré, e José Vilar, da Murtosa.Entre as curiosidades do livro está também o aproveitamento que alguns moleiros faziam do movimento para iluminar o moinho, quando começou a aparecer a energia eléctrica.«Quando se fala tanto hoje em energias alternativas, há décadas atrás alguns moleiros já instalavam dínamos nas mós ou no rodízio para ter luz no moinho e em alguns casos carregavam baterias para levar para casa. Só eles é que tinham luz na habitação porque a energia não tinha ainda chegado a essas aldeias», descreve Carvalho Ferreira.Segundo o historiador, no Distrito de Aveiro há vestígios de milhares de moinhos, na maioria moinhos de água e de rodízios, mas já muito poucos trabalham.As transformações económicas e sociais do último século determinaram o seu declínio. Muitos desapareceram e quase todos estão em ruína, apesar de começar a haver agora alguma sensibilidade de particulares e de autarquias para a sua reabilitação, para fins turísticos e de lazer.No concelho de Aveiro resta apenas um moinho em laboração, no caso uma azenha, localizada no Bonsucesso, Aradas, numa área suburbana da cidade.É explorado por Duarte Poupa quando sai do emprego, porque a farinha não lhe permite viver apenas daquela actividade.O moinho tem vários séculos, tal como a tradição da família, com várias gerações de moleiros, que corre o risco de se perder. Duarte Poupa cobra a «maquia» aos lavradores que lhe entregam o milho para moer, mas são mais os que lhe compram a farinha sem fazer a entrega, porque cada vez menos se cultiva a terra.Sai do emprego e vai todos os dias ao moinho, faça chuva ou faça sol, porque, além da moagem, há que fazer limpezas e manutenção, que faz com saberes herdados de carpintaria e de mecânica, substituindo componentes que ele próprio fabrica.Quanto ao futuro do moinho, admite que possa morrer com ele porque o filho anda a cursar engenharia e não o vê a levar aquela vida.No entanto, refere o historiador, não é um fatalismo e abrem-se novas perspectivas: já existem vários projectos a nível nacional para aproveitar os moinhos para a microprodução de energia.
Fonte: Sol

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