sexta-feira, julho 04, 2008

O FRISO DO FALHANÇO

Foi em 1870 que foi criado o Ministério dos Negócios da Instrução Pública. Em 138 anos de história, quase cem de ministros, 93 até agora, foram titulares da pasta da Educação. Os retratos de todos estão desde esta semana expostos no átrio do Ministério da Educação, numa espécie de reconhecimento aos que com “saber, esforço e sofrimento ajudam a construir o futuro deste país”, justificou a actual ministra, Maria de Lurdes Rodrigues.A iniciativa da “galeria dos ministros da Educação” justifica-se ainda mais “num país que nem sempre é grato, que nem sempre tem boa memória e que é pessimista”, declarou Maria de Lurdes Rodrigues, num átrio cheio de ex-titulares da pasta e ex-secretários de Estado; o ambiente da reunião, com tantos abraços, saudades e recordações, fazia lembrar uma reunião de antigos alunos.
Provavelmente serei eu um dos tais pessimistas de que fala a actual ministra. Mas não me importo muito com isso. Continuo a dizer que a educação é um falhanço português e é mais intensamente um falhanço da democracia. Repito-o sem receio de rótulos. E, creio que os resultados demonstram-no.
Coube a Veiga Simão, ministro entre 1970 e 1974, descerrar os panos que cobriam os painéis, felicitar a ministra pela ideia simbólica que valoriza “o amor à pátria e a confiança no futuro” e desejar que o retrato de Maria de Lurdes Rodrigues só venha a integrar a galeria em 2009, no final do seu mandato.
Se assim for, Rodrigues entrará para a história da democracia como a ministra que mais tempo se manteve à frente da pasta. Dos 25 ministros que por lá passaram desde o 25 de Abril, só dois – Roberto Carneiro (1987-91) e Marçal Grilo (1995-99) – cumpriram o mandato. E será com “orgulho” que figurará na galeria onde estão outros governantes que não aguentaram mais do que uns meses, como foi o caso da sua antecessora, Maria do Carmo Seabra (2004-05).
Mas a iniciativa foi mais longe. Tem livro. Numa pasta particularmente difícil, reconheço sem dificuldade, que vive sob o escrutínio de milhões de pais, alunos e professores, são vários os governantes que descrevem como muito positivos os anos vividos no Ministério da Educação. Esses testemunhos estão agora compilados no livro “1962-2005, Quatro décadas de Educação”, também apresentado esta semana, e que sintetiza as medidas de política educativa tomadas por cada um. Que bom: assim temos o trabalho de análise simplificado.
Até lá está o depoimento de David Justino, que também foi ministro com maioria absoluta, do Governo PSD/CDS recorde-se e que também esta semana se lembrou (um pouco tarde, não?) que a Educação precisa de reformas profundas.

E assim vai a Pátria com as elites a celebrarem alegremente e com direito a livro e fotografia os seus falhanços. Ditoso povo que tanto aguenta.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

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