sexta-feira, maio 23, 2008

AS BIOGRAFIAS FALSAS



1. “Nasceu em Aveiro em 26 de Dezembro de 1809, na freguesia da Apresentação. A sua formação escolar foi brilhante como aluno universitário de reputado nome, licenciando-se em Direito e regendo de seguida a cadeira de Economia, na Escola Politécnica de Lisboa. Depois de militar contra D. Miguel quando este se afirmou como usurpador do trono e insatisfeito com a vitória liberal de 1834, José Estevão juntou-se aos liberais mais radicais - os Setembristas, ao lado de Passos Manuel e Costa Cabral, passando a ter lugar no Parlamento. Aqui, sem esquecer a terra natal, desenvolveu notável acção em defesa dos desprotegidos, dos perseguidos e, sobretudo, dos interesses nacionais, afirmando-se como um dos principais expoentes da Oratória parlamentar portuguesa de todos os tempos. Algumas das suas intervenções ficaram memoráveis. Morreu em 1862.
Defensor da urgência de continuadas obras na barra da Aveiro, da construção de um farol e de muitos outros benefícios regionais, foi também intransigente na passagem do caminho de ferro pela sua cidade, vindo este a ser inaugurado, até à estação de Aveiro, quando os seus restos mortais aqui chegaram, em 1864. Em 1889, por reconhecimento público, Aveiro recebeu a estátua do grande paladino com grandes festejos, assim homenageando um dos seus filhos mais ilustres dos tempos contemporâneos.” (in http://aveirana.doc.ua.pt/joseestevao.htm).
2. “José Estêvão Coelho de Magalhães (Aveiro, 26 de Dezembro de 1809, Lisboa, 4 de Novembro de 1862), mais conhecido por José Estêvão, foi um notável jornalista, político e orador parlamentar português”. (in http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Est%C3%AAv%C3%A3o_Coelho_de_Magalh%C3%A3es).
3. Depois de ler estas notas biográficas, intrigado, vagueei ainda mais pela internet à procura de mais informação biográfica relativa a José Estêvão. Vi muitas. Mas, invariavelmente, todas referiam o ilustre aveirense como deputado, jornalista, político, licenciado em Direito, jurista, professor de economia.
Ora bem: a internet, os livros, os manuais, as enciclopédias, até o venerável Dicionário Biográfico Parlamentar 1834-1910 (vol II, pp. 710-713), da Colecção Parlamento, Imprensa de Ciências Sociais/Assembleia da República, Lisboa, publicado em 2005; da esforçada mas inglória autoria de Maria Filomena Mónica, estão todos errados. José Estêvão era, afinal, médico. A bata branca com que a Câmara Municipal vestiu a estátua da Praça da República, prova-o, finalmente. Que bom haver pessoas assim, que corrigem a história. Que bom haver quem faça da cultura um Carnaval de máscaras. Haja paciência. Parece que há infiltrações do Bloco de Esquerda no executivo municipal.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

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