sexta-feira, dezembro 29, 2006

BALANÇO DO ANO

Aborto: o tema em que todos os nãos serão sempre provisórios e só um sim será definitivo. As esquerdas, com o auxílio prestimoso e cúmplice de alegadas direitas, conseguiram impôr novo referendo, sem que ninguém dentro do sistema tenha tido a coragem de se opôr. Bem mais importante é defender a natalidade, mas aí ninguém faz nada. É mais difícil e não dá títulos nos jornais.
Aveiro: é um dos distritos com mais desemprego, mais insegurança e mais crise social do país. É dos que mais condições tem para sair da crise. Tem empresas, ainda, investidores, ainda e dinâmica. Falta-lhe estratégia e autarcas com capacidade de liderança.
Câmara Municipal de Aveiro: um ano depois de ter ganho as eleições a coligação CDS/PEM/PSD ainda não foi capaz de apurar a dívida municipal. Os problemas que existiam, agravaram-se. Élio Maia é uma sombra do eficaz Presidente de Junta que foi. A mais insignificante promessa eleitoral está por cumprir. Um desastre que lembra o desastre que foi a mesma coligação, sem PEM, no Governo de Durão Barroso e Santana Lopes.
Cavaco Silva: eleito à primeira volta entra na história como o primeiro Presidente da República, que chega a Belém sem o apoio do PS. Já se percebeu que isso não é problema para Sócrates. A dúvida é se o será para o PS sem Sócrates. Aguardamos a todo o momento que Augusto Santos Silva revele a fonte que lhe confidenciou que Cavaco Silva faria um golpe de Estado constitucional.
CDS de Aveiro: procura-se. Dão-se alvíssaras. Poucas.
Défice: agora é que vinha a calhar um Presidente que dissesse que “há mais vida para além do défice”. Todos falam dele, a começar pelos que o criaram, com Cavaco Silva à cabeça. Os que o causaram, os que o agravaram, os que o ignoraram, os que dele se alimentaram e ainda se alimentam no intervalo das brilhantes conferências, entrevistas e artigos que fazem contra ele. O mais estranho é que os responsáveis pela desgraça colectiva, pelo menos muitos deles, continuem a falar como se nenhuma responsabilidade tivessem no cartório. Até quando? Só até nos voltarmos a lembrar que não devem merecer mais a nossa confiança política.
Educação: estão contas por fazer com os irresponsáveis que neste ministério, ao longo de anos, decidiram programas, impuseram métodos de estudo, impuseram manuais, definiram regras de avaliação, que reduziram a autoridade nas Escolas e fomentaram a ignorância e a impreparação de gerações inteiras de jovens. É pena é que os sindicatos dos professores continuem na idade do PREC e se esqueçam que a melhor forma de prejudicar a imagem dos professores é manter o tipo de “luta” que vêm prosseguindo.
Empresas Municipais: continua a vergonha do esbanjamento, do clientelismo, da corrupção neste mundo oculto de despesa e desperdício. Em Lisboa criaram mais uma, em Aveiro não extinguiram nenhuma. A EMA, em Aveiro e a EPUL em Lisboa, são bem os paradigmas do emprego político, do despesismo e da inutilidade. E da impunidade também. Qualquer dia é preciso um processo do género “Empresa Municipal Dourada” para acabar com o regabofe.
Futebol: desceu aos fundos dos infernos. O que menos interessa é o jogo em si. Isto diz tudo sobre a degradação total a que chegou a indústria em Portugal. Um caso siciliano.Governo: sem desculpa para o que falhar. Tem a maioria em São Bento, não tem oposição, tem um amigo em Belém. E tem sobretudo muita distracção popular com o acessório. Se não for desta quando será?
Iberismo: a defesa do iberismo conheceu ao longo do ano grandes aliados. Ministros que defendem a união com Espanha, que já deviam ter sido redondamente demitidos, como Mário Lino, políticos ditos patriotas que para atacarem a classe política portuguesa elogiam os seus colegas espanhóis, como o deputado fantasma por Aveiro Paulo Portas, investimentos portugueses feitos e decididos em função da vontade dos nossos vizinhos (ver TGV). Mais um combate a travar.
Justiça: a surpresa do ano. O novo Procurador-Geral nomeou Maria José Morgado para coordenar o caso conhecido por “Apito Dourado”. O futuro dirá se o fez por entretém ou por convicção. Continuo convencido que se a vontade fosse mesmo combater a corrupção Maria José Morgado devia voltar ao lugar de onde foi forçada a demitir-se na Polícia Judiciária, por incomodar ministros do CDS e do PSD, em 2003. Mas seria muito bom para a saúde do país que tivesse sucesso na missão que lhe foi atribuída e que aceitou.
Livros: quando uma senhora que trabalhou dignamente numa casa de alterne consegue mandar escrever o livro do ano, o estado de saúde da sociedade portuguesa, sobretudo o da sua Justiça, está pelas ruas da amargura. Se os processos complicados só voltarem a andar à força de livro, 2007 promete, digo eu…
Maternidades: muitas fecharam e em nome de critérios económicos. Esperemos apenas que esta decisão não contribua, a prazo, para o congestionamento ainda maior do litoral e com ele para o aumento, ainda mais significativo, dos custos. Será que se isso acontecer o actual Ministro da saúde vai reconhecer o seu erro?
Nova Democracia: realizou o seu 3º Congresso e assumiu sem complexos e com total clareza, ser um partido da direita conservadora e liberal, patriótico, soberanista, popular. Defensor do presidencialismo, da taxa única nos impostos sobre o rendimento e do fim do rendimento mínimo para quem pode trabalhar, os conservadores liberais portugueses fecham o ano já com os olhos postos em 2009.
Ota: o negócio do século. Contra a opinião da esmagadora maioria dos cidadãos o aeroporto da Ota é uma prioridade do Governo. Não do país. Apesar de estudos em contrário, que testemunham estarmos perante uma péssima opção. Portugal continua assim entregue a pessoas, neste caso a políticos, para quem as dificuldades a enfrentar são coisa pouca perante os benefícios que alguns, no presente, podem receber. O défice tem sobrevivência assegurada no longo prazo. Curiosamente apesar desta “ousadia” decisória, ninguém nos informa quanto à titularidade dos terrenos em que o aeroporto será construído. Nem quanto à data da respectiva aquisição. Porque será?
Pescas: foi um mau ano para os pescadores portugueses. A par de preços dos combustíveis que afectaram a rentabilidade das nossas embarcações, surgiu ainda um ministro autista, aliado dos interesses exclusivos de quem importa, protector da vontade de Bruxelas. As pescas, sector onde já fomos fortes entre os fortes, atravessam uma grave crise e ela não resulta apenas das circunstâncias ou do acaso. Resulta da má vontade dos governos nacionais que, ano após ano, as abandonam e hipotecam.
Prós & Contras: o programa de Fátima Campos Ferreira foi desigual durante o ano, muitas vezes teve ministros a mais e informação a menos, mas por ele passaram dos debates políticos mais vivos e decisivos do ano, como foram por exemplo os que juntaram Manuel Maria Carrilho e Ricardo Costa e Fernando Ruas e António Costa. Um oásis na televisão estupidificante a que noutros horários nem a RTP consegue fugir. Já agora, que é feito dos debates parlamentares por onde outrora passava a conflitual idade política democrática do país?
Questão social: problema presente na sociedade portuguesa, fruto das assimetrias de desenvolvimento. Um destes dias teremos de procurar a classe média de lanterna na mão….
Referendo: em 11 de Fevereiro vamos a votos. Eu voto NÃO. Em nome da liberdade de nascer. E de viver. É particularmente chocante que num mundo onde a facilidade de acesso aos meios contraceptivos se democratizou a um ponto até há bem poucos anos inimaginável, se continue a admitir a destruição de vidas humanas como se de pequenos ratos se tratasse.
Ribau Esteves: do melhor que o actual PSD tem. Mas como no melhor pano cai a nódoa, perdeu as eleições para a Distrital do PSD e cedeu aos encantos das empresas municipais na Câmara Municipal de Ílhavo.
Sol: o novo semanário é um acto de arrojo. Concorrente directo do Expresso, mexeu com o mercado da comunicação social e foi talvez o jornal português com melhor arranque em termos de tiragens e leitores da história da imprensa portuguesa. Parabéns aos seus fundadores e aos seus investidores.
TGV: finalmente conhecemos o traçado da linha do TGV (abreviatura de Tara Governamental Variável). E finalmente percebemos que esse traçado era, por mera coincidência, o que mais convinha a Madrid. Nós pagamos, Espanha escolhe. Perceberam o que faz Mário Lino no Governo?
União Europeia: com o problema da possível adesão da Turquia nos braços, os órgãos da União continuam a ter mais e mais poderes. Em nome de quem? Apenas de quantos querem rebentar, e de vez, com o que resta da soberania nacional.
Violência: passou definitivamente da sociedade para as escolas. E os relatórios aí estão para o demonstrar. Conseguirá ou quererá a ministra da Educação impor um modelo de disciplina que salvaguarde a autoridade dos professores e não continue a degradá-la?
Xenofobia: aumenta, infelizmente, todos os dias. Porque em nome de um pseudo-idealismo continuamos a adoptar políticas que não entendem a realidade da vida. E dos homens concretos.
Zona Económica Exclusiva: será certamente sempre zona e económica, mas por vontade de Durão Barroso e seus colegas comissários deixará brevemente de ser exclusiva. Do pouco que resta de nosso, corre o risco de passar para as mãos da União Europeia. É isto admissível? Não, não é, mesmo que a maioria dos nossos deputados europeus assim o entendam. “Ah, mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal”…
PS A todos os leitores, investidores e profissionais do Diário de Aveiro desejo, apesar das nuvens no horizonte, um excelente Ano Novo.
(publicado no Diário de Aveiro)

1 comentário:

Migas (miguel araújo) disse...

Caro Jorge Ferreira
Aproveito igualmente para desejar um ano de 2007 cheio de tudo o que ambiciona e deseja.
Um abraço