Por vezes somos tentados a pensar que Deus nos reservou os piores para nos tratar do destino. Que o país foi concebido num dia mau e que transporta consigo para todo o sempre o pecado original de ter nascido de uma zanga entre um filho e uma mãe. Isto sucede normalmente nas fases de maior desespero com a política, em que colectivamente parece descrermos de tudo, de nada e de todos.
Raciocinemos: serão os políticos tão más pessoas que nos desejem mal? Não creio. Serão tão insensíveis que desejem errar? Duvido. Serão uma trupe de gente mal formada e mal intencionada que se diverte perversamente com a desgraça alheia? Acho que não.
Então qual é o nosso problema? Eu entendo que o principal problema político do país hoje é que o Governo, qualquer que ele seja e o Primeiro-Ministro, qualquer que ele seja, não têm liberdade para governar. Não têm liberdade para decidir bem. Não têm possibilidade de aplicar determinadas medidas em que durante as campanhas dizem acreditar e defender até aos últimos grãos de convicção que lhes resta.
O problema é que eles sabem-no e mentem ao povo, fazendo crer que podem o que não podem e, muitas vezes propondo o pouco que podem, mas não devem. Quem quiser governar Portugal tem hoje duas barreiras intransponíveis. A primeira é uma Constituição socialista, de inspiração marxista, que não permite mexer no modelo social que suga as finanças públicas de forma absolutamente ineficiente e até, socialmente injusta.
Se um partido ou um político pretender algum dia apresentar um programa político de reforma profunda do Estado, do sistema político e dos sistemas sociais, rapidamente perceberá que a Constituição não o permite. Terá de mudar de agulha, será corrido a mentiroso, e passará à história como mais um igual a tantos outros.
Depois existe outra barreira. Desde a entrada em vigor do Tratado da União Europeia que os Estados deixaram de mandar na sua política económica, monetária e orçamental. Seja qual for a ideologia, o programa, o sonho ou o ideal, a Comissão europeia parece ter um polícia à entrada de São Bento, pronto para multar, castigar e punir quem ousar, por necessidade ou convicção, transpôr as margens estreitas do diktat comunitário.
Os Governos estão condenados, e sabem-no de antemão, a cumprir a política dos outros. Dos que fizeram a Constituição há trinta anos e dos que fizeram o Tratado de Maastricht há quase quinze.
Dir-me-ão: então está a desculpá-los? Não, muito pelo contrário. A responsabilidade dos políticos é saberem disto, assobiarem para o ar, fazerem de conta que nada se passa e, sobretudo, nada fazerem para mudar esta situação castradora da liberdade de decidir e governar. As eleições estão transformadas num desfile de misters. Pior: eles sabem que não podem fazer o que prometem e mesmo assim prometem. Foi por isso que na Hungria o povo, enojado com o actual Primeiro-Ministro, saiu à rua. É por isso que ontem, logo de manhã, no café onde bebo a primeira bica do dia, um cidadão comum, vendo Sócrates na televisão, ditou, seco e cortante a sua sentença: “Não gosto deste gajo! Mentiu ao povo.” Vox populi, vox dei.
Raciocinemos: serão os políticos tão más pessoas que nos desejem mal? Não creio. Serão tão insensíveis que desejem errar? Duvido. Serão uma trupe de gente mal formada e mal intencionada que se diverte perversamente com a desgraça alheia? Acho que não.
Então qual é o nosso problema? Eu entendo que o principal problema político do país hoje é que o Governo, qualquer que ele seja e o Primeiro-Ministro, qualquer que ele seja, não têm liberdade para governar. Não têm liberdade para decidir bem. Não têm possibilidade de aplicar determinadas medidas em que durante as campanhas dizem acreditar e defender até aos últimos grãos de convicção que lhes resta.
O problema é que eles sabem-no e mentem ao povo, fazendo crer que podem o que não podem e, muitas vezes propondo o pouco que podem, mas não devem. Quem quiser governar Portugal tem hoje duas barreiras intransponíveis. A primeira é uma Constituição socialista, de inspiração marxista, que não permite mexer no modelo social que suga as finanças públicas de forma absolutamente ineficiente e até, socialmente injusta.
Se um partido ou um político pretender algum dia apresentar um programa político de reforma profunda do Estado, do sistema político e dos sistemas sociais, rapidamente perceberá que a Constituição não o permite. Terá de mudar de agulha, será corrido a mentiroso, e passará à história como mais um igual a tantos outros.
Depois existe outra barreira. Desde a entrada em vigor do Tratado da União Europeia que os Estados deixaram de mandar na sua política económica, monetária e orçamental. Seja qual for a ideologia, o programa, o sonho ou o ideal, a Comissão europeia parece ter um polícia à entrada de São Bento, pronto para multar, castigar e punir quem ousar, por necessidade ou convicção, transpôr as margens estreitas do diktat comunitário.
Os Governos estão condenados, e sabem-no de antemão, a cumprir a política dos outros. Dos que fizeram a Constituição há trinta anos e dos que fizeram o Tratado de Maastricht há quase quinze.
Dir-me-ão: então está a desculpá-los? Não, muito pelo contrário. A responsabilidade dos políticos é saberem disto, assobiarem para o ar, fazerem de conta que nada se passa e, sobretudo, nada fazerem para mudar esta situação castradora da liberdade de decidir e governar. As eleições estão transformadas num desfile de misters. Pior: eles sabem que não podem fazer o que prometem e mesmo assim prometem. Foi por isso que na Hungria o povo, enojado com o actual Primeiro-Ministro, saiu à rua. É por isso que ontem, logo de manhã, no café onde bebo a primeira bica do dia, um cidadão comum, vendo Sócrates na televisão, ditou, seco e cortante a sua sentença: “Não gosto deste gajo! Mentiu ao povo.” Vox populi, vox dei.
(publicado na edição de 20 de Outubro de 2006 do Diário de Aveiro)
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