Os momentos de dificuldade são apropriados para recuperar o tempo perdido. As notícias diárias anunciam cortes de orçamento gerais para todas as instituições públicas. Hospitais, centros de saúde, escolas, Universidades, politécnicos, ministérios, câmaras municipais. É uma boa altura para deixar de navegar à vista e definir rumos.
Nos últimos anos a sociedade portuguesa tem vivido no conforto de saber que se algo correr mal, o Estado, no último segundo, paga. Esses tempos acabaram. O Estado somos nós todos, os cidadãos, as famílias e as empresas que, bem ou mal, criam riqueza. E, no conjunto, não criamos a riqueza necessária para sustentar o nosso modo de vida.
E não criamos essa riqueza porque, apesar de trabalharmos mais horas que os outros (é o que dizem as estatísticas…), trabalhamos mal. À medida que foram aumentando as dificuldades, foram aumentando os diagnósticos. Todos fazem diagnósticos, quando o que o país precisa é de objectivos e de motivação para os alcançar. Curiosamente nos diagnósticos, a culpa é sempre dos outros e nunca dos seus autores.
Na semana passada foi a vez do Compromisso Portugal fazer mais uns quantos diagnósticos. No convento do Beato, em Lisboa, exorcizaram-se fantasmas e fizeram-se liturgias de fé. Esperava eu que o Compromisso começasse pelo princípio. E o princípio é: o que faz cada um de nós nas empresas que gerimos apara aumentar a qualidade, a produtividade e a riqueza? Mas não.
Mais uma vez o diagnóstico e as posologias apontadas foram para os outros, designadamente para o Estado. O Estado, que, repito, somos todos nós. O que é engraçado é que muitos dos responsáveis pela actual situação do Estado estão abrigados no Compromisso Portugal. Antigos ministros das Finanças, da Economia, do Trabalho. Liberais de moda e de última hora. Assistem às sessões e batem palmas. Eles, os mesmos que fizeram exactamente o contrário daquilo que hoje aplaudem. Eles, que quando puderam reduzir a monstruosa despesa pública, a aumentaram. Eles, que quando puderam reduzir o peso do Estado na economia e na sociedade, optaram por fazer exactamente o contrário.
É por isso que considero que o primeiro problema do país neste momento, mesmo sabendo que o dinheiro escasseia para pagar tudo aquilo que nos últimos anos julgámos que podíamos pagar, é de credibilidade. Dos líderes das empresas, dos líderes políticos, dos líderes das instituições. É essa falta de credibilidade que gera a indiferença cívica, este estado de desinteresse em que os portugueses e genericamente o mundo ocidental, vivem. Nada lhes importa, nada os preocupa, nada os motiva. Falta liderança.
É este estado letárgico que justifica a última das cedências. Ultimamente, parece estarmos prontos para abdicar também da liberdade, sob ameaça, sob chantagem e transidos de medo. Voltarei a este ponto.
Aveiro não foge à regra geral e um entre muitos exemplos da postura que acima critiquei. O debate público resume-se a saber se a dívida da Câmara é de milhão a mais ou milhão a menos. E quem meteu mais ou menos milhão na dívida global. O debate deveria ser sobre o que tem de mudar, como vai mudar e quem vai pagar a mudança, para resolver os problemas. Gastar continuamente não é mais possível. E a política, como se costuma dizer, tem horror ao vazio.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
Nos últimos anos a sociedade portuguesa tem vivido no conforto de saber que se algo correr mal, o Estado, no último segundo, paga. Esses tempos acabaram. O Estado somos nós todos, os cidadãos, as famílias e as empresas que, bem ou mal, criam riqueza. E, no conjunto, não criamos a riqueza necessária para sustentar o nosso modo de vida.
E não criamos essa riqueza porque, apesar de trabalharmos mais horas que os outros (é o que dizem as estatísticas…), trabalhamos mal. À medida que foram aumentando as dificuldades, foram aumentando os diagnósticos. Todos fazem diagnósticos, quando o que o país precisa é de objectivos e de motivação para os alcançar. Curiosamente nos diagnósticos, a culpa é sempre dos outros e nunca dos seus autores.
Na semana passada foi a vez do Compromisso Portugal fazer mais uns quantos diagnósticos. No convento do Beato, em Lisboa, exorcizaram-se fantasmas e fizeram-se liturgias de fé. Esperava eu que o Compromisso começasse pelo princípio. E o princípio é: o que faz cada um de nós nas empresas que gerimos apara aumentar a qualidade, a produtividade e a riqueza? Mas não.
Mais uma vez o diagnóstico e as posologias apontadas foram para os outros, designadamente para o Estado. O Estado, que, repito, somos todos nós. O que é engraçado é que muitos dos responsáveis pela actual situação do Estado estão abrigados no Compromisso Portugal. Antigos ministros das Finanças, da Economia, do Trabalho. Liberais de moda e de última hora. Assistem às sessões e batem palmas. Eles, os mesmos que fizeram exactamente o contrário daquilo que hoje aplaudem. Eles, que quando puderam reduzir a monstruosa despesa pública, a aumentaram. Eles, que quando puderam reduzir o peso do Estado na economia e na sociedade, optaram por fazer exactamente o contrário.
É por isso que considero que o primeiro problema do país neste momento, mesmo sabendo que o dinheiro escasseia para pagar tudo aquilo que nos últimos anos julgámos que podíamos pagar, é de credibilidade. Dos líderes das empresas, dos líderes políticos, dos líderes das instituições. É essa falta de credibilidade que gera a indiferença cívica, este estado de desinteresse em que os portugueses e genericamente o mundo ocidental, vivem. Nada lhes importa, nada os preocupa, nada os motiva. Falta liderança.
É este estado letárgico que justifica a última das cedências. Ultimamente, parece estarmos prontos para abdicar também da liberdade, sob ameaça, sob chantagem e transidos de medo. Voltarei a este ponto.
Aveiro não foge à regra geral e um entre muitos exemplos da postura que acima critiquei. O debate público resume-se a saber se a dívida da Câmara é de milhão a mais ou milhão a menos. E quem meteu mais ou menos milhão na dívida global. O debate deveria ser sobre o que tem de mudar, como vai mudar e quem vai pagar a mudança, para resolver os problemas. Gastar continuamente não é mais possível. E a política, como se costuma dizer, tem horror ao vazio.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
1 comentário:
Nem mais. Totalmente de acordo.
Cpts
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