Sempre houve e haverá várias esquerdas e várias direitas. Mas no caso português, existe um momento histórico particularmente relevante na definição da concorrência ideológica e partidária. E esse momento foi aquele em que o MFA passou os alvarás aos partidos no Pacto MFA-Partidos, assinado em 11 de Abril de 1975. Nesse dia a tropa revolucionária disse quem podia e quem não podia fazer política depois de Abril e, consequentemente, quem podia e quem não podia entrar no mercado partidário. Pior, os que receberam a bênção dos quartéis tiveram de se conformar com limites ideológicos socializantes e esquerdizantes, que conduziram o CDS a defender no seu projecto de Constituição em 1975 a construção do socialismo português! Era esta a condição para entrar no clube. E assim chegámos ao século XXI.
Este poder ainda hoje se projecta na sociedade portuguesa, trinta e dois anos depois. Este condicionamento provocou um sistema político coxo. Tudo se tem passado como se o país fosse uma pessoa com uma dúzia de pernas esquerdas de vários matizes e feitios, e uma muleta para se amparar na ausência de contrapeso a tanta perna de um só lado. O CDS fez de direita e o PSD fez de direita do ponto de vista geométrico, não infelizmente do ponto de vista ideológico. Eles têm sido a direita permitida, consentida e autorizada pelos vizires do sultão revolucionário. E dirá o leitor: o que temos nós a ver com isso? Respondo: temos muito.
E temos muito porque neste momento estamos no fim de um tempo e no início de outro. Vivemos um sistema político, económico e social que tem os dias contados. Por muitas discordâncias que tenhamos uns com os outros sobre o que fazer, todos percebemos que está a chegar ao fim uma era cujo projecto essencial era trabalhar cada vez menos, ganhar cada vez mais e exigir quase tudo do Estado. Pelo caminho foram insidiosamente moldadas as direitas convenientes e bem comportadas: as autorizadas. São pessoas, certamente bem intencionadas e cheias de fé que fazem discursos contra a esquerda mas que são alimentadas pela esquerda e por isso, no limite, inofensivas. Sabe-se que na hora H, estarão do lado certo da barricada.
Ora, aqui bate o ponto do futuro: é preciso uma direita moderna, popular e sem complexos de esquerda. Que ponha a política e o Estado ao serviço do Homem e não o Homem ao serviço das mitomanias falidas do Estado social. Que reconheça a Nação como identidade e porta aberta ao Mundo e não como um quarto de dormir cheio de naftalina. Que perceba que o Estado a mais estraga, não resolve. E que o Homem não é naturalmente bom, como cegamente acreditam as esquerdas, nem naturalmente mau, como cegamente crê a velha direita dos salões lisboetas do reviralho alimentado, todavia, pelos orçamentos públicos. Esta é a descrição da situação tal qual a vejo. A resposta que creio necessária, encontrá-la-á o leitor neste espaço de hoje a oito dias.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
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