O meu último artigo no Diário de Aveiro sobre a construção da pista de remo de Cacia parece ter desagradado a sectores ligados à coligação PSD/CDS/PEM. Tanto, que houve até quem não se contivesse no silêncio e o tivesse treslido, considerando uma heresia que deveria ser porventura punida em político e pacífico auto de fé.
Esclareça-se, se é que é preciso. Defendo a construção da pista desde que se saiba antes quanto custa, quem paga, e como, para não se transformar numa segunda edição do Estádio. Ambição, reconhecerão os leitores, bem modesta, que deveria ser partilhada sem necessidade de especial vigilância por quem recebe mandato para dispor do dinheiro de todos. Infelizmente, não parece ser o caso.
Entretanto, esta semana, veio a público uma notícia espantosa. Uma alegada dívida da Câmara de Aveiro, no valor global de 95 mil euros, parece estar a deixar em sérias dificuldades o Clube Galitos, em particular a sua secção de remo!
A instituição veio acusar a autarquia de não pagar verbas referentes a um subsídio acordado em protocolo e serviços prestados, desde o passado mês de Novembro. "Os contratos são para cumprir, porque há expectativas que são criadas", afirmou o presidente do clube, receando pelo futuro da modalidade no seu clube.
Segundo a direcção do Galitos, o município é devedor de 95 mil euros."O principal problema é a desmotivação dos atletas, dos dirigentes seccionistas e, por arrasto, da direcção. Nós não temos activos, apenas gastos, não podemos fazer grandes coisas", afirmou o presidente do clube.
"A continuação do sucesso competitivo do remo do Galitos está ameçado", alertam os dirigentes do clube, que acaba de encerrar um ano desportivo considerado como "o melhor das últimas décadas".
Só na modalidade de remo, a que mais preocupa os dirigentes do Galitos, esta temporada permitiu a consagração de 31 campeões e a conquista de 14 títulos nacionais. "Os subsídios em atraso e a ausência de perspectiva sobre o retomar dos pagamentos estão a minar a preparação das novas épocas desportivas que se avizinham", alerta o clube, reforçando que "a situação mais crítica vive-se no remo".
Os problemas relativos aos pagamentos da Câmara de Aveiro terão começado no tempo de Alberto Souto, em Março de 2005, mas parece que registam uma estranha continuidade. O clube admite ter já "dívidas para terceiros" que resultam do incumprimento da autarquia e sublinha a "urgência da regularização da dívida".
Cá está. Uma Câmara que não arranja 95.000 euros para pagar uma dívida a um clube, com particular actividade e competição de sucesso no remo, quer abalançar-se a construir uma pista de remo sem qualquer garantia de pagamento prévia. Não é demais?
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
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