sexta-feira, junho 02, 2006

O Peso Político

Nos últimos tempos tem voltado à baila o problema da falta de peso político de Aveiro. É um tema recorrente sempre que se sente que os problemas do concelho e da região que Aveiro representa não andam nem desandam. Sobretudo, porque a tentação da comparação imediata com Coimbra é irreversível e, naturalmente, desfavorável.

Ainda ontem Carlos Candal voltou ao assunto em entrevista concedida ao Diário de Aveiro. E tem muita razão no que diz. Aveiro paroquializou-se nas últimas décadas. Perdeu vitalidade política e o debate político funcionalizou-se.

E Aveiro tem todas as condições para ser um pólo de desenvolvimento social, uma referência de evolução económica e um centro de poder gerador de progresso. Dispõe de uma prestigiada Universidade e de sentido de iniciativa. Tem condições naturais para desenvolver uma economia equilibrada. Mas para isso precisa de uma coisa que não tem tido: liderança política.

Não estão naturalmente em causa as boas intenções das pessoas que têm sido chamadas a exercer cargos autárquicos, todas animadas decerto dos melhores propósitos. Mas o que é facto é que não têm projectado a cidade ao nível que ela consente e merece. E, a nível nacional, os eleitos de Aveiro nos órgãos de soberania, independentemente do partido a que pertencem, também não conseguiram impor o tal peso político, no PS, no PSD e no CDS.

Um pequeno exemplo basta para se perceber do que estamos a falar. No domingo passado decidi visitar a Feira do Livro de Aveiro. Mesmo na era da informática, não há nada que substitua o prazer de ler um livro. Não posso esconder a nossa desilusão. Uma Feira do Livro daquela dimensão numa cidade que tem milhares de estudantes numa das mais prestigiadas Universidades de Portugal é um sinal. Um sinal de que muito tem de mudar e de há muito trabalho a fazer na projecção cultural da cidade.

E o que é que se discutiu sobre este assunto em Aveiro? Se a Feira devia voltar ao Rossio ou se devia realizar-se noutro local. É o tipo exemplo de debate paroquial, que não leva a lado nenhum. O que se devia ter discutido é que Aveiro merece mais e melhor do que a Feira que está no Rossio. Se hoje estivéssemos especialmente bem humorados até sugeriríamos que a fizessem no velhinho Mário Duarte… assim uma espécie de Feira do Livro Desportivo. Convidava-se o Eusébio, o Simão, o Jorge Costa e o Mourinho para sessões de autógrafos e seria certamente uma romaria, o que chamaria mais editoras e mais público. A verdade é que não há Daniela Mercury que disfarce o declínio político de Aveiro…

Humor à parte, a conclusão que temos de tirar é que fazer política para lutar pelos interesses desta terra exige políticos sérios, que não andem à procura de cidades de aluguer para se fazerem eleger para os cargos e depois abandonarem à sua sorte, apenas se voltando a lembrar delas quando voltam a precisar do voto.

Como exige políticos que no exercício dos seus mandatos ponham a partidarite de lado e unam esforços pelos interesses comuns. Repetimos: neste debate ninguém, mas mesmo ninguém, está isento de responsabilidades. Que as assumam, que é um sinal de seriedade e um bom ponto de partida para mudar. E como não há tempo a perder, a mudança tem que começar já nas próximas eleições.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

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