Grassa grande indignação de há uns tempos a esta parte em Aveiro pela renitência do Governo socialista honrar os compromissos assumidos pelo Governo PSD/CDS com a versão socialista da Câmara de Aveiro, relativamente aos compromissos assumidos na comparticipação financeira governamental na construção da pista de remo de Rio Novo do Príncipe.
A este propósito temos ouvido lautamente teorizar sobre a natureza jurídica dos contratos, sobre a natureza institucional dos compromissos e até sobre teorias da conspiração que envolveriam o Presidente da Federação Portuguesa de Remo, pessoa de Coimbra, supostamente mais interessado na construção de outra pista que não a de Rio de Novo do Príncipe.
Élio Maia precipitou uma reacção do Governo PS, que certamente já antevia, anunciando a construção da pista, no sentido de provocar uma clarificação do Governo. Conseguiu. Mas a pior possível. Agora anda a negociar, sem qualquer garantia de sucesso, até porque o ambiente financeiro do país não está para grandes extras.
Curiosamente existe em Aveiro uma situação simétrica. O Beira-Mar, que brilhantemente acaba de reconquistar o seu lugar na Superliga, reclama da Câmara de Aveiro o pagamento, em devido tempo protocolado, de uma verba de 800.000 euros, relativa ao negócio global do novo Estádio, construído para o Euro 2004.
O Presidente da Câmara Municipal de Aveiro diz que não tem dinheiro para pagar. Engraçado. Então agora não há palavra dada? Então agora os contratos não são para cumprir? Então agora as instituições não estão vinculadas aos seus compromissos independentemente das pessoas que em cada momento, por força da decisão eleitoral legítima, são eleitas para servir essas mesmas instituições?
Quando o Governo socialista diz que não tem dinheiro para pagar é falta à palavra. E quando é a Câmara Municipal de Aveiro que o faz? O que será? Curiosamente, ou talvez não, não se têm visto tão abundantes teorias sobre a natureza dos contratos a propósito desta situação.
Talvez exista uma lição a tirar destes imbróglios. É que a política portuguesa padece de um gravíssimo vício. O vício das grandezas, que todos estamos duramente a pagar. Assinar papéis, chamar os jornalistas e fazer sessões de propaganda, é fácil. No Governo e nas autarquias. Pagar é que são elas. É que como diz o povo, casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
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