A aspiração de qualquer ser humano é ganhar bem, fazer pouco e viver em estado de fim de semana permanente. Infelizmente a vida não o permite e os mesmos seres humanos desenvolveram, perante as contingências da sobrevivência, uma teoria de responsabilidade e do dever.
Tudo isto aplica-se a toda a gente, menos aos deputados. As reacções à lamentável sessão de absentismo parlamentar da Páscoa permitiram perceber o nível de alguns desses deputados e evidenciar as razões pelas quais o Parlamento em especial e os políticos em geral estão mal vistos pela opinião pública.
Vejamos quatro exemplos, aliás, democráticos porque provenientes de vários partidos.
Para Alberto Martins, do PS, a questão resolve-se assim: marca-se falta aos deputados que faltarem só no momento das votações. Ou seja: um deputado pode não pôr os pés no Parlamento o dia todo, tem é que estar quando chegar a hora mágica das votações. Durante o dia pode sua excelência jardinar à vontade, que é perfeitamente dispensável. Para dar lustro à cadeira na altura de contar os soldadinhos é que tem de estar no sítio.
Para Marques Guedes, do PSD, a questão é significativamente mais simples: é obrigação da maioria parlamentar do momento assegurar o quórum. Aí está. Os deputados da oposição podem baldar-se à vontade. Os da maioria é que não. O que poderá futuramente levar à perversa consequência de os candidatos a deputados dos vários partidos fazerem de tudo para perder a eleição para se livrarem desta maçada burocrática de ter de se deslocar uma vez por semana ao Plenário para votar durante uns minutos os diplomas da semana. O que é bom é ser da oposição.
Para Guilherme Silva, também do PSD, o problema é que não houve coragem para fechar o Parlamento na Semana Santa. Lobrigo aqui uma piscadela de olho eleitoral à Igreja, mas não consigo evitar perceber uma concepção relapsa do mandato parlamentar. Olha se o princípio pegasse… Se as empresas com elevada taxa de absentismo fechassem, fechava-se o país e pronto. A coisa tornava-se simples e estava resolvida. De acordo com esta doutrina eminentemente insular do funcionamento das instituições está encontrada a solução para os males da Nação. Para os evitar, fecha-se a Nação!
Para Paulo Portas, o problema é mais refinado. O erro foi antecipar o dia das votações de quinta-feira para quarta-feira, porque isso foi um convite à ponte. Que desilusão, esta análise. De um génio espera-se sempre mais. Primeiro, não se tratou de ponte mas de fim de semana alargado. Uma minudência que a cultura popular decerto perdoará. Segundo: então os deputados não são gente responsável? O deputado Portas não resiste a um diazinho de preguiça parlamentar? Antecipam-lhe as votações e a tentação da gazeta torna-se-lhe irresistível? Não terão os políticos de dar o exemplo? Ah, gloriosos tempos de um certo semanário, em que um Comissário-Mor de Fiscalização dos Políticos enchia páginas e páginas denunciando fraquezas políticas destas e doutras, disso fazendo assunto de Estado…
A verdade, caros leitores, tem que se dizer: os deputados revelaram falta de sentido de responsabilidade e falta de respeito pelo país. É que não há lei por melhor que seja, que substitua o sentido da responsabilidade que não se tem.
Tudo isto aplica-se a toda a gente, menos aos deputados. As reacções à lamentável sessão de absentismo parlamentar da Páscoa permitiram perceber o nível de alguns desses deputados e evidenciar as razões pelas quais o Parlamento em especial e os políticos em geral estão mal vistos pela opinião pública.
Vejamos quatro exemplos, aliás, democráticos porque provenientes de vários partidos.
Para Alberto Martins, do PS, a questão resolve-se assim: marca-se falta aos deputados que faltarem só no momento das votações. Ou seja: um deputado pode não pôr os pés no Parlamento o dia todo, tem é que estar quando chegar a hora mágica das votações. Durante o dia pode sua excelência jardinar à vontade, que é perfeitamente dispensável. Para dar lustro à cadeira na altura de contar os soldadinhos é que tem de estar no sítio.
Para Marques Guedes, do PSD, a questão é significativamente mais simples: é obrigação da maioria parlamentar do momento assegurar o quórum. Aí está. Os deputados da oposição podem baldar-se à vontade. Os da maioria é que não. O que poderá futuramente levar à perversa consequência de os candidatos a deputados dos vários partidos fazerem de tudo para perder a eleição para se livrarem desta maçada burocrática de ter de se deslocar uma vez por semana ao Plenário para votar durante uns minutos os diplomas da semana. O que é bom é ser da oposição.
Para Guilherme Silva, também do PSD, o problema é que não houve coragem para fechar o Parlamento na Semana Santa. Lobrigo aqui uma piscadela de olho eleitoral à Igreja, mas não consigo evitar perceber uma concepção relapsa do mandato parlamentar. Olha se o princípio pegasse… Se as empresas com elevada taxa de absentismo fechassem, fechava-se o país e pronto. A coisa tornava-se simples e estava resolvida. De acordo com esta doutrina eminentemente insular do funcionamento das instituições está encontrada a solução para os males da Nação. Para os evitar, fecha-se a Nação!
Para Paulo Portas, o problema é mais refinado. O erro foi antecipar o dia das votações de quinta-feira para quarta-feira, porque isso foi um convite à ponte. Que desilusão, esta análise. De um génio espera-se sempre mais. Primeiro, não se tratou de ponte mas de fim de semana alargado. Uma minudência que a cultura popular decerto perdoará. Segundo: então os deputados não são gente responsável? O deputado Portas não resiste a um diazinho de preguiça parlamentar? Antecipam-lhe as votações e a tentação da gazeta torna-se-lhe irresistível? Não terão os políticos de dar o exemplo? Ah, gloriosos tempos de um certo semanário, em que um Comissário-Mor de Fiscalização dos Políticos enchia páginas e páginas denunciando fraquezas políticas destas e doutras, disso fazendo assunto de Estado…
A verdade, caros leitores, tem que se dizer: os deputados revelaram falta de sentido de responsabilidade e falta de respeito pelo país. É que não há lei por melhor que seja, que substitua o sentido da responsabilidade que não se tem.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
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