sexta-feira, março 24, 2006

A Reboque


A dívida da Câmara de Aveiro arrisca tornar-se uma telenovela de mau gosto para o contribuinte, um palco de política estéril para políticos sem nível e uma cortina de fumo para prestidigitadores de trazer por casa.

Esta semana assistimos a dois capítulos novos. O primeiro: a lenta, burocrática e anquilosada administração central conseguiu parecer o Speedy Gonzalez da fiscalização. A Inspecção Geral de Finanças conseguiu antecipar-se a tudo e todos e numa semana apenas decidiu-se a entrar pelas contas adentro. O segundo: o anúncio da retoma do mandato de Vereador por Alberto Souto, alegadamente para limpar a reputação gastadora e despesista que alega ser injusta.

Tudo visto e somado importa tirar algumas conclusões políticas.

Primeira: o Executivo municipal tem andado a reboque de tudo e de todos onde lhe competia afirmar, esclarecer, e liderar. Foi a reboque do PS na auditoria. Agora vai a reboque do Governo na inspecção. É uma obra-prima ter um Governo PS a fiscalizar a gestão PS na Câmara! Ainda há-de conseguir o feito de ir a reboque de Alberto Souto se ele efectivamente retomar o mandato…

Segunda: no terreno que era politicamente mais propício à afirmação da competência e da eficiência e por elas, da diferença face ao PS, a maioria PSD/CDS/PEM fracassou. É o PS local que tem a iniciativa e é o Governo PS que age. Um zero à direita.

Terceira: Alberto Souto demonstra o conceito do mandato autárquico no seu pior esplendor. Usa a sua eleição para Vereador (vontade do povo…) não para honrar o compromisso político, programático e eleitoral, mas para defender a honra pessoal. Aqui confunde todos os planos. Nem a Vereação serve para lavar a honra, nem o mandato é uma arma pessoal de defesa.

Quarta: parece que existe a tentação de justificar a desistência da auditoria encalhada num caderno de encargos mal feito com a fiscalização da IGF. Por favor, não façam das pessoas uns lorpas. A IGF avalia a legalidade das despesas. A auditoria a racionalidade da gestão. Uma não substitui a outra. Uma despesa pode ser legal e desnecessária, ilegal e necessária, ilegal e desnecessária. É muito estranho que a Câmara admita esta possibilidade.

Quinta: o PS, em processo eleitoral local, também não se deve sentir lá muito bem. Ao PS interessa virar a página, começar vida nova e preparar o futuro. Com Alberto Souto no activo tudo será mais difícil.

E já lá vão seis meses…

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

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