quinta-feira, março 02, 2006

Desilusão

O Presidente da Câmara Municipal de Aveiro deu uma entrevista ao Público que se revelou uma desilusão. Nem uma ideia, nem um projecto, nem um sonho. Justificações e mais justificações. Faltam 44 meses para aqui, faltam 44 meses para ali. Está bem, faltam 44 meses, mas para fazer o quê? O programa continua a ser o grande ausente da gestão autárquica desde Outubro passado. A entrevista parecia de fim e não de início de mandato.

Está certo que há dívidas para pagar. Que há uma casa para arrumar. Mas que diabo, Aveiro não é uma cidade nem um concelho qualquer. Quem ouve ou lê Élio Maia fica com a errada sensação que Aveiro não tem problemas.

Mas a verdade é que eles não faltam. Desemprego, insegurança, política da Ria, grandes projectos de desenvolvimento. Sobre isto, nada. A sensação que fica é que o actual executivo não tem visão, estratégia nem ambição. A Câmara de Aveiro não pode limitar-se a ser uma mercearia com contabilidade organizada.

Aproximar o poder municipal dos cidadãos é excelente. Sugiro até um lema para uma possível campanha de marketing: “A Câmara Municipal porta-a-porta”. Pagar a quem se deve é ético. Sugiro outro lema: “A Câmara deve-lhe alguma coisa? Venha fazer um acordo!”. Mas saber o que se quer é decisivo. E pelos vistos é isso que falta a Élio Maia. Ou então não o deixam…

O resto, nestes primeiros cem dias, é mais passivo. Passivo de clientelas locais nas empresas municipais, mais precisamente o dobro. Passivo de recuo na ideia eleitoralmente cheirosa de extinguir as ditas, agora diz-se repensar. Passivo na conflitualidade interna da coligação que nem a bonomia do Presidente consegue disfarçar, agora dir-se-á “tensão criativa”. Seria muito bom que a Câmara começasse a governar e a resolver problemas. É de longe preferível debater decisões do que vazios.

Numa coisa Élio Maia tem razão: conceber a Câmara mais como dinamizador de investimento do que como investidor directo. Gastar contínua e indefinidamente já a gestão socialista provou não é solução e apenas serve para comprometer as gerações do futuro. Infelizmente em Portugal é necessário bater no fundo para se perceber que viver a crédito é viver a prazo certo.

Noutra coisa tem o meu incondicional apoio: instalar o Tribunal Administrativo e Fiscal em Aveiro.

No mais, Presidente, precisa-se.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

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