sexta-feira, junho 30, 2006

A Família Incógnita

Os portugueses sabem certamente que da União Europeia vem dinheiro. Desde 1986 que se habituaram a ver alcatrão, rotundas, cursos e cursinhos que as mais das vezes apenas servem para disfarçar temporariamente o desemprego, a ler siglas que cheiram a cifrão como FSE, FEDER, FEOGA, QCA e outros que tais.

O que certamente já não sabem é que os políticos que elegem convencidos de que estão a decidir o poder, mandam cada vez menos, podem cada vez menos e como é evidente, não o admitem, para não menorizar a sua função no palco e a sua vaidade no espelho.

No início da presença de Portugal na CEE, era necessário encantar o país com a árvore das patacas. Por isso, quando o dinheiro através do telejornal e as más notícias chegavam por baixo da mesa. O que significa que quando os decisores nacionais introduziam na ordem jurídica portuguesa as normas desagradáveis de Bruxelas, faziam-no no uso do método confidencial. Houve de tudo: directivas comunitárias transformadas em normas jurídicas nacionais através de Portarias, de Decretos Regulamentares e até de simples despachos ministeriais. Tudo bem longe das vistas do cidadão comum, que infelizmente não inclui o Diário da República nas suas leituras de cabeceira.

Para acabar com os segredos e possibilitar a salutar e adequada fiscalização parlamentar, a revisão constitucional de 1997 veio prever que a transposição das normas comunitárias para o direito interno só poderia fazer-se daí em diante por Lei da própria Assembleia por Decreto-lei do Governo, sempre susceptível de apreciação parlamentar e consequente alteração, nos termos de processo regimental próprio.

Mas a inércia institucional derrota o mais voluntarista do reformador. O dia-a-dia engole facilmente os grandes projectos e as melhores intenções legislativas.

A verdade é que hoje resta muito pouco para decidir pelos órgãos de soberania de Portugal. A maior parte das decisões vem de fora, mas vem sempre do mesmo sítio: Bruxelas. Tomadas por homens e mulheres que ninguém conhece, em quem ninguém votou e que impõem os seus ditames, pagos a peso de subsídios, aos políticos eleitos nos Estados membros.

Claro, bem sei que fica mais barato protestar em São bento do que fazer uma excursão á Grand Place para destapar faixas e empunhar megafones, quando sentimos na pele os malefícios desses ditames.

É por isso que o estado actual da União Europeia, mais a mais quando a célebre Constituição europeia está apenas no congelador e não, como devia, no cemitério político das infelicidades federalistas, exige a insubstituível motivação da liberdade para construir uma Europa nova.

Justamente no exercício dessa liberdade, a Nova Democracia aderiu no passado domingo à EUD, novo agrupamento político europeu liderado por Jens-Peter Bonde, líder do “não” a Maastricht em 1992 no referendo dinamarquês. Na EUD todos os partidos são iguais e não existem partidos especiais que dão ordens a partidos acessórios, como sucede no Partido Socialista Europeu e no partido Popular Europeu, onde se aninharam, subservientes e bem comportados o PS, o PSD e o CDS.

Há alternativas. É preciso é ter vontade política de as construir. Os legisladores e os burocratas de Bruxelas são hoje uma espécie de família incógnita de todos nós. Julgam ter esse direito de abuso devido às transferências financeiras do orçamento comunitário. Que não incluem obviamente despesas com maçadas eleitorais ou referendárias.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

Histórias De Aveiro (3)

29 de Junho de 1628: saíram neste dia do Convento do Carmo para procederem à fundação do Convento de Santa Cruz do Buçaco, Frei Tomás de S. Cirilo, que havia dirigido diversas comunidades, Frei João Baptista e Frei Alberto da Virgem – os quais já tinham vivido a experiência do Deserto de Batuecas, junto de Salamanca. Levaram apenas um cobertor, cada um, para as suas camas, uma canastra de sardinhas para a alimentação dos primeiros dias e dez cruzados novos para ocorrer às despesas iniciais (Rangel de Quadros, Aveiro – Apontamentos Históricos, V, fl. 95; Marques Gomes, O Districto de Aveiro, pg. 244, e Memórias de Aveiro, pg. 107; Padre David do Coração de Jesus, O.C.D., A Reforma Teresiana em Portugal, 1962, pg. 58) .

quinta-feira, junho 29, 2006

Aveiro Antigo (7)


A Ponte dos Arcos, em 1921. Ao tempo ainda não existia o Hotel Central.
(Album de Carneiro da Silva)

terça-feira, junho 27, 2006

Aveiro Antigo (6)


Aspecto do Canal Central, por volta de 1920, vendo-se a Ponte dos Arcos e o edifício anteriormente à construção do hotel actualmente ali existente.

Histórias De Aveiro (2)

27 de Junho de 1904: começaram os trabalhos de expropriação amigável de algumas casas da zona citadina denominada «Beira-Mar», para a abertura da rua central do novo bairro da Apresentação (Campeão das Províncias, 24-6-1905).

sexta-feira, junho 23, 2006

Histórias De Aveiro (1)


24 de Junho de 1324: El-Rei D. Dinis confirmou o escambo anteriormente feito entre a Ordem de S. João do Hospital e o Conde D. Pedro e sua mulher D. Branca, do qual resultou ficar pertencendo a estes tudo quanto a Ordem possuía em Eixo e seu termo (Torre do Tombo, Chancelaria de D. Dinis, livro 3, fl. 160v).

Aveiro Antigo (5)


Movimento no Cais dos Mercantéis, cerca de 1910.

Alívio Político


Num momento em que uma bizarra jornalista luxemburguesa considera chauvinista e segregacionista o facto de os emigrantes portugueses naquele país exibirem bandeiras portuguesas à janela, em Portugal verifica-se um facto político novo.

A história é simples de contar. Até agora quem não defende o federalismo europeu, para ter voz na União Europeia tinha de se associar ao partido extremista da jovem Drago ou ao partido do comunista Jerónimo. Demasiado redutor, mas a culpa é inteirinha do PSD e do CDS. Ambos se renderam ao mais radical e absurdo federalismo europeu, entrando no PPE.

A partir de Domingo, deixa de ser assim. A Nova Democracia vai aderir à EUD, European Union Democrats, força política do Parlamento Europeu. Passa, pois, a ser possível não ser de esquerda e ter um partido representado na União Europeia, sem ser nos “donos” da União, o PSE e o PPE.

É um serviço à democracia, à liberdade, ao país e a uma ideia de Europa que não quer estigmatizar quem gosta da bandeira do seu país.

(publicado na edição de hoje do Democracia Liberal)

Para Onde Há-de Ir O Dinheiro?

Um dos debates mais necessários na actualidade é o de saber onde devem e em que medida ser aplicados os dinheiros públicos. Quais são as necessidades colectivas que devem ser financiadas pelo dinheiro de todos, ou seja, através de impostos, ou apenas pelo dinheiro de quem consome os serviços públicos.

Este é o núcleo do contrato social que todas as sociedades necessitam de fazer para assegurar a sua viabilidade política. É aqui que se coloca a necessidade de fazer opções e escolhas em função de valores e de concepções de vida e de Estado. Sem esquecer nunca que o Estado nasceu para servir o Homem e não o contrário.

Este problema põe-se igualmente ao nível autárquico. É urgente redefinir o modelo de poder autárquico que temos no nosso país e que está tão ultrapassado como o sistema político português. A asfixia financeira da generalidade das autarquias deriva de muitas obras do passado que foram sem dúvida necessárias, mas resultam também de esbanjamentos vários, da voracidade clientelar e da necessidade de uma ostentação balofa para efeitos meramente eleitorais e que nem sempre correspondem em resultados na urnas, ao contrário do que se poderia pensar.

Pode o leitor julgar meramente teóricas estas considerações. Tentarei demonstrar que não. Com exemplos concretos.

Primeiro exemplo: devem as autarquias ser empresárias? A minha resposta é: em princípio não. Faz sentido por exemplo a Câmara de Aveiro ter uma participação social em sociedades anónimas desportivas? Nenhum sentido. Faz, portanto, muito bem, a Câmara de Aveiro em alienar a sua participação no Aveiro Basket. Fomentar o desporto, muito bem. Ser empresária de desporto profissional, aí gastando o dinheiro de todos, muito mal.

Segundo exemplo: deve a Câmara de Aveiro trocar o basquetebol pelo futebol, por exemplo? A minha resposta é igualmente não. E por isso sigo com curiosidade extrema as negociações que têm ocorrido entre os membros da lista vencedora nas últimas eleições para os órgãos sociais do Beira-Mar no sentido de resolver o problema da dívida da Câmara ao clube. Sendo certo que a Câmara não admitirá certamente fazer ao Beira-Mar o que o Governo fez à Câmara, é um teste à credibilidade do município saber como vai decidir entre os contratos e boa aplicação dos dinheiros públicos. Até porque esta é uma questão a ser resolvida em família. Desportiva, claro.

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

segunda-feira, junho 19, 2006

Aveiro Antigo (4)


Aspecto da Avenida Central, na altura ainda vedada ao trânsito, actualmente com o nome do Dr. Lourenço Peixinho, e a Rua Almirante Reis, por volta de 1920.

19 De Junho De 1985


Começa a publicação do Diário de Aveiro. Hoje é uma verdadeira instituição de Aveiro, onde tenho o privilégio de ter uma coluna semanal. Muitos parabéns e que o Diário de Aveiro continue por muitos anos a informar com rigor e isenção e a ser um instrumento de formação esclarecida de opinião. Acima de tudo, uma expressão de liberdade, como tem sido.

sexta-feira, junho 16, 2006

Contra O Iberismo

"A Nova Democracia e o Partido Galeguista iniciaram hoje, no Porto, uma ronda de encontros apostada em combater a lógica iberista "de Lisboa e Castela" que, acusam, pretende fazer de Portugal e da Galiza meras províncias espanholas.

"A tentativa de Castela em relação às várias nações que constituem Espanha é a mesma que existe, encapotadamente, em relação a Portugal. Castela adoraria que Portugal passasse a ser mais uma região da Península Ibérica e todas as políticas portuguesas contribuem para que se caminhe a passos largos para o país ser mais uma região castelhana", afirmou à Lusa Manuel Monteiro, líder da Nova Democracia. O presidente da Nova Democracia falava após o encontro com uma delegação do Partido Galeguista, chefiada pelo seu secretário-geral, Manoel Soto, a que se seguirão outros nos próximos meses, alternadamente em Portugal e na Galiza.

"Com base neste pressuposto filosófico que contraria a lógica iberista, conveniente à classe política de Lisboa que está dependente da de Madrid, vamos abordar temas que contribuem para o aproximar de relações nos planos económico e cultural entre Portugal e a Galiza", explicou Monteiro. Para Manuel Monteiro, este contacto entre partidos políticos portugueses e galegos é uma forma de combater o iberismo, ao reforçar a relação entre a nação portuguesa e a galega.

"A nossa perspectiva é de que a Península Ibérica tem várias nações, entre as quais Portugal e a Galiza, que querem ter a sua autonomia e capacidade de afirmação políticas, convivendo em liberdade umas com as outras", afirmou. O primeiro encontro entre a Nova Democracia e o Partido Galeguista é, por isso, "o primeiro sinal vermelho político aos integracionistas iberistas que lá (em Castela) e cá (em Lisboa) vão proliferando", acrescentou.

Na mesma linha, o secretário-geral do Partigo Galeguista, Manoel Soto, afirmou à Lusa que o objectivo destes encontros é conseguir um entendimento a vários níveis, desde o cultural ao económico, "mas nunca a um uniformismo, como pretende o iberismo". O Iberismo é a doutrina política que advoga uma federação de Portugal com a Espanha, ou seja, a constituição de uma União Ibérica."

Notícia da Lusa

Ser Professor

Hoje ser professor tornou-se uma mera escapatória ao desmprego para alguns, um funcionalismo para muitos e uma militância partidária para outros tantos. Assim como há contínuos, mangas de alpaca, motoristas ou outras categorias profissionais.

Horário para cumprir, papéis para assinar, rituais meramente burocráticos a respeitar. Se isto tudo estiver em ordem, o professor é bom. Senão, não presta. Apenas uma profissão como qualquer outra. Apenas. Excepto se for professor-sindicalista. Essa, sim, é uma verdadeira carreira, paga pelo Estado, isto é, pelos contribuintes.

Assim como há sindicalistas que não põem os pés no seu posto de trabalho há décadas, assim há sindicalistas das aulas que não as dão há muito tempo. A sua vida são os comunicados, as negociações, as manifestações. Tudo direitos, sim senhor, com guarida legal, mas que os torna extra-terrestres do ensino.

Esta semana houve mais uma greve de professores do ensino básico. Cirurgicamente marcada para dias colados ou intercalados de feriados. A verdade é que a greve foi marcada assim para potenciar a sua adesão pela dilatação de umas inesperadas fériazinhas, à sombra de uma luta sindical politizada, que meteu t-shirts do Che Guevara e tudo. Tudo, é claro, ao abrigo do constitucional direito à expressão, mas mostrando o gato escondido.

Claro que a greve é um direito. Está na Constituição, de par com muitos outros direitos que no dia a dia dos cidadãos não são tão religiosamente efectivados como o direito à greve. Mas isso é conta de outro rosário.

No meio disto tudo, interessa-me mais saber que exemplos receberam os alunos destes professores durante o ano lectivo que agora termina? Deixo apenas a pergunta.

Ensinar, antes de transmitir conhecimentos, é dar o exemplo aos alunos de muitas virtudes pessoais e cívicas necessárias a um correcto desenvolvimento da personalidade e à formação para a vida, para construir um país melhor. É muito duvidoso que seja isso que se passa no ensino básico. Onde existem cada vez menos professores dignos desse nome. Infelizmente.

Sobressai, assim, a ministra da Educação que, de par com alguns erros e medidas erradas, consegue o verdadeiro feito de ser dos membros do Governo mais populares, numa pasta antigamente destinada à imolação política do seu titular.

Deixem de brincar ao ensino, por favor.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

terça-feira, junho 13, 2006

Lacunas Da Cultura Em Aveiro

Oportuno artigo de Susana Barbosa. Aqui.

segunda-feira, junho 12, 2006

Planeamento Estratégico

As eleições preparam-se com tempo, quem vier a seguir que pague.

domingo, junho 11, 2006

sábado, junho 10, 2006

Diz O Roto Ao Nu...

... Que o aspecto é que conta. Parece que os partidos da coligação camarária estão muito excitados com a nomeação de Alberto Souto para a Anacom. Boys, dizem eles. Pois poderá ser, digo eu. Mas e se eles olhassem para o exército de boys e de tachos que têm distribuído em Aveiro? É preciso lata...

sexta-feira, junho 09, 2006

Também Amanhã...

Amanhã, em Aveiro, pelas 21h30, o líder da NovaDemocracia Manuel Monteiro, Susana Barbosa e o Porta-Voz das Novas Gerações Luís Lacerda, encontram-se com militantes e simpatizantes da NovaDemocracia na rotunda dos Arcos, junto ao Hotel Arcada, frente ao Fórum de Aveiro, para uma acção de rua de sensibilização do Portugal que somos hoje!

Amanhã

quinta-feira, junho 08, 2006

A Promiscuidade

Aveiro tem vivido nos últimos meses com um vereador municipal à Beira-Mar plantado. A história é conhecida: um vereador do CDS na coligação que governa a Câmara tem acumulado as suas funções municipais com as de dirigente de um clube de futebol, o qual, por mero acaso tem um conhecidíssimo contencioso financeiro com a autarquia e que para o thriller ficar completo, diga-se, é presidido pelo seu pai! Desde já faço uma prevenção. Não me interessa o nome do vereador nem o nome do clube. Apenas me interessa analisar a situação e os princípios de conduta pública que se devem observar nestas situações. Partindo do princípio que Portugal, apesar da pouca vergonha que campeia por aí, ainda não será propriamente um qualquer regime africano ou latinoamericano…

Um dos fenómenos da sociedade portuguesa que retira mais transparência à democracia é a promiscuidade. De cargos, de funções, de decisões, de influências e de interesses. Na ânsia do poder, das decisões favoráveis, da pura satisfação de interesses da mais diversa ordem, que não de ordem pública, há quem não hesite em misturar e contaminar o interesse público com interesses que, mesmo que legítimos, não podem nem devem ser confundidos entre si e, sobretudo na mesma pessoa.

Autarquias e futebol é uma mistura explosiva. Autarquias e sociedades anónimas desportivas é um caldinho que não cheira bem em lado nenhum. Assim como está na moda chamar juízes para exercer funções que nada têm a ver com a sua missão, assim também está na moda, de resto há muitos anos, ver autarcas como dirigentes de clubes desportivos.

Agora, o autarca decidiu deixar o clube, precisamente no momento quentinho em que as negociações para resolver o contencioso financeiro estão no ponto de rebuçado. É, pois, legítimo exigir um esclarecimento do Presidente da Câmara sobre esta situação. Por que razão o dito vereador só agora sai do clube? Que influências moveu? Que soluções para o diferendo garantiu, se é que garantiu? E o Presidente da Câmara está confortável nesta peça de mau espectáculo que devia ser interdito a todas as idades? Fez alguma coisa para tirar o espectáculo de cena? E, em caso afirmativo, fez concretamente o quê?

Por mim, digo: é assim, excelentíssimos cidadãos, que se desprestigia o poder e a política. É assim que se geram as suspeitas sobre os políticos e a política. É assim que os eleitores passam a encarar a possibilidade de “serem todos iguais” e de “nem lá vou, para quê?”, no dia do voto. É assim que, quem tem a responsabilidade cívica e política de dar o exemplo dá o mau exemplo.

Esta coligação PSD/CDS/PEM começa a ser um cardápio de má conduta política. E ainda nem um ano passou sobre a eleição. Muito melhor andaria o vereador em causa, se em vez de se preocupar com outras coisas tivesse tido a competência de organizar uma feira do livro à altura dos pergaminhos da cidade. Talvez para o ano, liberto que certamente estará então de outras preocupações.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

domingo, junho 04, 2006

Ler Os Outros

"São Bernardo tem muitas carências. Quem o diz é o próprio presidente da Junta de Freguesia. Mas...afinal quem é que que foi durante anos e anos, o presidente da Junta de Freguesia de São Bernardo? Sempre ouvi elogiar o excelente trabalho que ali foi sendo desenvolvido! Já não percebo nada!"
Pedro Neves, no Aveiro Sempre

Aveiro Antigo (3)


Aveiro nos fins do século XIX (1890): Largo de Luís Cipriano Coelho de Magalhães, antigo Presidente do Município de Aveiro e pai de José Estêvão. Neste local se realizava a praça de hortaliça e da fruta. À direita, a casa com as Alminhas do Côjo e a barbearia do Rei-Dones.

sexta-feira, junho 02, 2006

Finalmente, Percebi!



Deve ser por causa disto que o PSD se lembrou de propôr o Dia Nacional do Cão, mas com a doutrina vigente da paridade (as sanções é que têm de ser moderadas...), o Dia terá de se chamar do Cão e da Cadela...

O Peso Político

Nos últimos tempos tem voltado à baila o problema da falta de peso político de Aveiro. É um tema recorrente sempre que se sente que os problemas do concelho e da região que Aveiro representa não andam nem desandam. Sobretudo, porque a tentação da comparação imediata com Coimbra é irreversível e, naturalmente, desfavorável.

Ainda ontem Carlos Candal voltou ao assunto em entrevista concedida ao Diário de Aveiro. E tem muita razão no que diz. Aveiro paroquializou-se nas últimas décadas. Perdeu vitalidade política e o debate político funcionalizou-se.

E Aveiro tem todas as condições para ser um pólo de desenvolvimento social, uma referência de evolução económica e um centro de poder gerador de progresso. Dispõe de uma prestigiada Universidade e de sentido de iniciativa. Tem condições naturais para desenvolver uma economia equilibrada. Mas para isso precisa de uma coisa que não tem tido: liderança política.

Não estão naturalmente em causa as boas intenções das pessoas que têm sido chamadas a exercer cargos autárquicos, todas animadas decerto dos melhores propósitos. Mas o que é facto é que não têm projectado a cidade ao nível que ela consente e merece. E, a nível nacional, os eleitos de Aveiro nos órgãos de soberania, independentemente do partido a que pertencem, também não conseguiram impor o tal peso político, no PS, no PSD e no CDS.

Um pequeno exemplo basta para se perceber do que estamos a falar. No domingo passado decidi visitar a Feira do Livro de Aveiro. Mesmo na era da informática, não há nada que substitua o prazer de ler um livro. Não posso esconder a nossa desilusão. Uma Feira do Livro daquela dimensão numa cidade que tem milhares de estudantes numa das mais prestigiadas Universidades de Portugal é um sinal. Um sinal de que muito tem de mudar e de há muito trabalho a fazer na projecção cultural da cidade.

E o que é que se discutiu sobre este assunto em Aveiro? Se a Feira devia voltar ao Rossio ou se devia realizar-se noutro local. É o tipo exemplo de debate paroquial, que não leva a lado nenhum. O que se devia ter discutido é que Aveiro merece mais e melhor do que a Feira que está no Rossio. Se hoje estivéssemos especialmente bem humorados até sugeriríamos que a fizessem no velhinho Mário Duarte… assim uma espécie de Feira do Livro Desportivo. Convidava-se o Eusébio, o Simão, o Jorge Costa e o Mourinho para sessões de autógrafos e seria certamente uma romaria, o que chamaria mais editoras e mais público. A verdade é que não há Daniela Mercury que disfarce o declínio político de Aveiro…

Humor à parte, a conclusão que temos de tirar é que fazer política para lutar pelos interesses desta terra exige políticos sérios, que não andem à procura de cidades de aluguer para se fazerem eleger para os cargos e depois abandonarem à sua sorte, apenas se voltando a lembrar delas quando voltam a precisar do voto.

Como exige políticos que no exercício dos seus mandatos ponham a partidarite de lado e unam esforços pelos interesses comuns. Repetimos: neste debate ninguém, mas mesmo ninguém, está isento de responsabilidades. Que as assumam, que é um sinal de seriedade e um bom ponto de partida para mudar. E como não há tempo a perder, a mudança tem que começar já nas próximas eleições.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)