sexta-feira, maio 22, 2009

DA FÉ À REALIDADE

Eu acredito que a esmagadora maioria dos professores sabem manter a disciplina nas suas aulas. Eu acredito que a esmagadora maioria dos professores não dá aulas de História falando orgias sexuais, perda da virgindade e outros assuntos incontornávei, inquestionavelmente ligados à História. Eu acredito que a esmagadora maioria dos professores não ameaçam os alunos nas aulas em retaliação às atitudes dos pais. Eu acredito que a esmagadora maioria dos professores ensinam os seus alunos a falar e a escrever correctamente o português. Eu acredito que a esmagadora maioria dos alunos não grava aulas no seu telemóvel como meio ilegítimo de obtenção de prova de mediocridade do ensino. Eu acredito que a esmagadora maioria dos pais não manda os seus filhos gravar aulas às escondidas para obter ilegitimamente prova contra professores incompetentes. Eu acredito que a esmagadora maioria das escolas, quando os pais se queixam de as aulas de História servem para falar das vicissitudes sexuais do género humano são capazes de averiguar e suster esse desvario. Eu acredito que a esmagadora maioria das escolas não adopta uma cultura corporativa de defesa intransigente de todos os professores independentemente das razões dos pais que se queixam. Eu acredito. Mas isto do acreditar é uma questão de fé e, por isso mesmo, insusceptível de prova.

O episódio da professora de Espinho, ainda que minoritário, o episódio do telemóvel do Porto, ainda que minoritário, o episódio dos mais de cem processos abertos no Ministério Público por violência de alunos nas escolas, ainda que minoritário, o episódio das agressões de professores por pais e familiares de alunos, ainda que minoritário, o episódio das gravações ilícitas de aulas, ainda que minoritário, todos estes episódios, ainda que minoritários, dizem-nos que o ambiente, a autoridade, a cultura vigente neste momento nas escolas revelam um carácter perigosamente doentio, lamentável e sinistro. E isto é realidade, não é já uma questão de fé. Isto pode provar-se, não vai de se acreditar ou não acreditar.

Estes episódios podem ter poucos culpados mas têm seguramente muitos responsáveis. São responsáveis todos quantos alienaram a disciplina mínima dentro das salas de aula, todos quantos alienaram a autoridade sadia dos professores, todos quantos transformaram as escolas em laboratórios de experimentalismos sociológicos para conseguir provar teorias pedagógicas falhadas, todos quantos tudo permitiram a professores e alunos sem consequência nem sanção, todos quantos desresponsabilizaram o sistema de ensino nos últimos anos. Esses, estão de parabéns. Conseguiram.

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

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