segunda-feira, fevereiro 06, 2006

A Terceira Via Em Aveiro


Há duas maneiras de conquistar o poder. Uma, é através da vontade positiva de mudança corporizada num programa claro e perceptível. Outra, é o método “carochinha”, que consiste em o candidato pôr-se à janela à espera que passe o João Ratão. Estar no sítio certo à hora certa para guardar no bolso a mudança de ciclo.

Exemplos do primeiro método: Cavaco Silva em 1985. Exemplos do segundo: Durão Barroso em 2002. Naturalmente os primeiros tendem a durar mais que os segundos. Quem sabe o que quer dura mais do que quem vai a reboque das circunstâncias.

No último Domingo o poder mudou em Aveiro. E não mudou segundo os métodos clássicos acima descritos. Mudou segundo uma espécie de terceira via. A via da surpresa do cansaço surdo do eleitorado.

Em boa verdade, apesar dos erros e da má gestão autárquica do PS em Aveiro, ninguém esperava que Alberto Souto perdesse as eleições. Nem ele, nem os seus adversários. A campanha eleitoral foi assim uma espécie de passeio para cumprir calendário. O PS, nunca imaginando perder. Os adversários confiantes de que nunca ganhariam.

Esta previsão era visível até nos debates que ocorreram entre os candidatos. Cada um tentava fazer a sua parte, o Bloco com a má criação e o primarismo usuais, o PCP certinho nas “medidas concretas” para descanso do Comité Central e a coligação suspeitando que hoje, no dia em que os meus pacientes leitores lêem estas linhas, Souto continuaria a ser Presidente de Câmara.

O candidato Élio Maia, o super-Presidente da Junta de Freguesia de S. Bernardo, demonstrou até não ter uma única ideia para resolver o gravíssimo problema financeiro da Câmara de Aveiro. O seu programa foi apresentado tarde e más horas, para cumprir calendário. As suas propostas foram pouco trabalhadas e muito menos quantificadas.

Mas o eleitorado estava farto e mudou. O eleitorado às vezes tem caprichos. Não diz a ninguém que está farto. Nem às sondagens confessa e no dia do voto, zás! Em Aveiro foi o que sucedeu. Há quatro anos muitos dos Presidentes de Câmara eleitos pelo PSD tiveram a sua vida virada do avesso, porque a última coisa que esperavam era ganhar as eleições.

Agora, Aveiro vai ser governada por uma equipa que partiu preparada para perder, mas que ganhou. E Aveiro, ganhará? Ou será uma espécie de Sintra, onde o grande argumento para Fernando Seara ser reeleito é que como não fez nada durante quatro anos não estragou mais o concelho? Tenhamos esperança que não porque Aveiro merece mais e, sobretudo, melhor.

(publicado na edição do Diário de Aveiro de 14.10.2006)

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