terça-feira, fevereiro 07, 2006

Ordenados, Mentiras E Dívidas

Vai elevado o debate público em Aveiro. Ordenados, mentiras e dívidas poderia ser o título de uma fita hardcore sobre o post-Souto na gestão municipal. Miguel Lemos, um munícipe deste ilustre concelho parece ter-se transformado num expedito pretexto para esconder o essencial. E o essencial é saber e discutir o futuro do desenvolvimento do concelho.

Se o actual executivo municipal estivesse sinceramente preocupado com as dívidas não estaria a preparar novas nomeações puramente nomenclaturescas e clientelares para as empresas municipais com ordenados à vista. Está certo que os Vereadores-Presidentes dessas empresas não vão receber ordenado. Mas vão receber os outros. Ora se a hora é de aperto, parece que, como é aliás mau hábito português, uns serão mais apertados que outros.

O caso de Miguel Lemos, por muito criticável que seja, e de acordo com as informações que temos, é-o, não pode ser transformado no álibi para o vazio. A substância é sempre mais importante que o acessório. E a substância é neste momento saber o que vai a Câmara fazer nos próximos quatro anos.
Para qualquer cidadão de bom senso o programa é, aparentemente, simples: saber qual é a dívida da Câmara, nessa base estabelecer os objectivos estratégicos para os próximos quatro anos e definir as medidas de execução. Só que o mais simples é sempre o mais difícil e a maioria vencedora das eleições ganhou-as sem programa, apenas com jeito. Nem sequer com táctica, o que pressupõe estratégia.
Calcorrear freguesias, apertar a mão aos eleitores, de preferência um a um, beber a bica em todos e cada um dos cafés do concelho, ser simpático, afável e empático como é Élio Maia, é demasiado curto para os desafios que o concelho tem pela sua frente.

Do ponto de vista político a grande incógnita é a de saber se, além de S. Bernardo ter perdido um excelente Presidente de Junta, Aveiro terá efectivamente ganho um bom Presidente de Câmara. O elitismo e o populismo não são programas, apenas estilos. Alberto Souto perdeu porque errou. Élio Maia ganhou porque Aveiro quis mudar. E não foi certamente o fim da história. Outros virão.

Entretanto, há problemas para resolver, obras para fazer, um futuro para construir. Alguém estará interessado nisso?

(publicado na edição de 12.12.2005 do Diário de Aveiro)

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