segunda-feira, fevereiro 06, 2006

O Passivo Activo


Existem várias espécies de passivos. Os estáticos e os dinâmicos. Os que são para pagar e aqueles do género “quem vier atrás que feche a porta”. Um passivo, seja de que espécie for, é sempre um encargo futuro. Um passivo público significa sempre um encargo para os jovens, que hão-de ter de trabalhar mais para o pagar. Em aritmética não há milagres.

Em geral, a cultura autárquica vigente em Portugal é esta: autarca suspeito ganha eleições, autarca gastador ganha eleições, autarca sério perde eleições, autarca poupado perde eleições. Há mesmo eleitores que não se importam de conviver com autarcas suspeitos desde que deixem obra. Ou de conviver com autarcas esbanjadores desde que deixem obra.

Esta cultura é que tem permitido uma gestão pública autárquica desastrada, laxista, esbanjadora e altamente discutível do ponto de vista dos resultados práticos. É que nem sempre aquilo que no imediato se revela vantajoso para as populações, mantém essas vantagens no médio e no longo prazo (é como os passivos…).

É esta mentalidade que fez com que Portugal chegasse onde está. À penúria. Porque todo o médio prazo um dia se torna curto e todo o longo prazo um dia se torna médio. Por outras palavras, todo o passivo é, afinal activo, pela simples razão que condiciona sempre as nossas vidas. Mesmo que haja prestidigitadores de ocasião, ilusionistas de trazer por casa ou simples aprendizes de feiticeiro investidos de mandatos públicos.

Por exemplo: fazer excelentes, funcionais e bonitos estádios de futebol para o Euro 2004, foi bom. A questão agora é saber quem paga a sua caríssima manutenção. Ou muito nos enganamos ou vai ser o passivo de médio e longo prazo… Isto é, nós todos.

Pensará o leitor que estou a falar de Aveiro. Poderei estar. Como de Faro ou de Loulé. Como de Oeiras ou de Felgueiras. Como de Leiria ou de Gondomar. Como do Marco de Canaveses ou de Amarante. Mais do que os casos concretos interessa-me realçar que o eleitorado é responsável pelas escolhas que faz e que não aceitando nenhum dos eleitores passar a viver em estado selvagem, que não seja sob o império da lei e do Estado de Direito, a alternativa é mudar de vida e mudar de vida significa começar por mudar de escolhas.

(publicado na edição de 19.07.2005 Diário de Aveiro)

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