Depois de um PS acomodado ao poder, distante do povo e gastador na tesouraria, Aveiro precisava de uma equipa camarária com um objectivo claro, um caminho definido para o atingir e uma liderança forte para o conseguir.
Infelizmente, não parece que tal tenha acontecido. O rotativismo eleitoral funcionou por cansaço dos eleitores para com o PS em Aveiro e por desilusão com Sócrates em S. Bento.
Aveiro é hoje governada por uma coligação de três partidos: o CDS, que põe e dispõe dos popularmente designados “tachos”, o PSD, que se contenta com a Presidência da Assembleia Municipal e o PEM, o Partido de Élio Maia, que está apanhado no remoinho dos outros dois.
Neste ponto Raul Martins tem razão, na entrevista que deu ao Diário de Aveiro. Mas o tom da entrevista, apenas três meses depois da hecatombe eleitoral do PS e em pleno processo de deserção dos principais eleitos em Outubro passado, é um sinal da inesperada fraqueza política do executivo camarário. Inesperada, porque era suposto saberem o que queriam para Aveiro. Inesperada porque sendo uma coligação e tendo obtido a maioria, era suposto demonstrarem uma solidez e uma consistência que está longe de existir. Não fosse assim e o deputado municipal do PS não se sentiria (já) tão à vontade para falar de alguns assuntos como falou.
Os sinais de desorientação têm-se acumulado.
Primeiro sinal: a falta de rigor na previsão orçamental, que demonstrou a impreparação técnica do novo executivo, para lidar com uma situação financeira catastrófica que, se não se sabe ainda ao certo a quanto ascende, toda a gente tinha a obrigação de saber que é muito.
Segundo sinal: a falta de rumo claro para a resolver. Como se vai pagar a dívida? O que é que é possível fazer nos próximos quatro anos? O que não é possível? E como pagar o que se vai conseguir fazer?
Terceiro sinal: a conflitualidade latente entre os três parceiros da coligação, que simbolicamente se manifesta nos vários domicílios políticos que usam para exercer os respectivos mandatos e nos conflitos de bastidores quanto à distribuição dos lugares, havendo quem, no PSD não ache graça nenhuma à preponderância que o CDS tem tido nesta competição.
Quarto sinal: a falta de estratégia para o destino a dar ao Mário Duarte. A Câmara vai respeitar o que encontrou, ou não? E se não o fizer, como pagar essa decisão? E que método político vai utilizar para tomar a decisão?
Quinto sinal: a falta de programa. Era engraçado fazer o seguinte exercício: pedir aos cidadãos de Aveiro para enunciarem uma medida que saibam que nestes quatro anos a Câmara se propõe realizar. Haveria respostas para além do “não sei”?
Eu sei: certamente muitos deles responderiam: “À nora! A Câmara está à nora!”.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
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